• Opinião

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    RAIMUNDO BONFIM E LINDBERGH FARIAS

    O redemoinho de 2016

    DE SÃO PAULO

    08/01/2017 02h00

    O ano de 2016 terminou, mas será impossível esquecê-lo por muitos anos, tamanha foi a complexidade e a velocidade dos acontecimentos.

    A classe média, impulsionada pelas ações da Operação Lava Jato, bateu panelas, foi às ruas indignada com a corrupção e exigiu o impeachment de Dilma Rousseff.

    2016 será lembrado por ter sido o ano em que o Congresso cassou Dilma sem ela ter cometido crime de responsabilidade.

    2016 foi marcado por grandes protestos de ruas e nem o período eleitoral deu trégua às manifestações. Consumado o impeachment, a dupla MBL/Vem pra Rua tirou o time de campo. Porém, as Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo, contrárias ao impeachment e provocadas por Michel Temer –que afirmou não passarem de 40 os manifestantes contrários ao governo– levaram à Paulista mais de 100 mil pessoas num só grito: Fora, Temer e Diretas Já.

    Em 2016, a crise econômica, política, social e institucional atingiu todos os Poderes. Nem o intocável STF escapou da força do redemoinho. Renan Calheiros, afastado da presidência do Senado por uma liminar, desobedeceu a decisão e levou a mais alta corte à humilhação e à desmoralização.

    Outro fato a ser destacado em 2016 foi a violenta repressão policial às manifestações contra o impeachment e a retirada de direitos.

    O ano será lembrado também pela maior derrota da esquerda e a ascensão da direita, mas também pelo movimento dos estudantes secundaristas, que numa ação inédita ocuparam mais de 1.200 escolas e 300 universidades em contraposição à reforma do ensino médio.

    Apesar da resistência dos movimentos sociais, o governo ilegítimo aprovou emenda constitucional que congelará por 20 anos investimentos nas áreas sociais, em especial saúde, educação e assistência social, num retrocesso sem precedente.

    A corrupção, o ataque aos direitos sociais e a instabilidade política são as marcas do governo sem legitimidade. Em meio ano de mandato, seis ministros caíram.

    A delação da Odebrecht levou o governo Temer à lona, atingindo ele próprio e os auxiliares Eliseu Padilha e Moreira Franco –únicos do núcleo duro que ainda não se foram.

    Passados sete meses do golpe, o país vive uma crise econômica e social com 12 milhões de desempregados e caminha para a convulsão social. Todos os campos da economia estão em crise.

    Temer, com alta rejeição, tenta levar seu mandato até 2018. Mas o fantasma da cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral e o mantra da desconfiança faz com que setores econômicos e empresariais iniciem a busca de nomes para eventual eleição indireta (o golpe do golpe) par dar seguindo ao ajuste fiscal e o desmonte do Estado.

    A eleição indireta de um presidente por um Congresso desmoralizado jogará mais lenha na fogueira. Se essa for a solução, o redemoinho de 2016 poderá em 2017 se transformar em tsunami.

    Em 2017 seguiremos a resistência, em defesa das Diretas Já, contra os ataques aos diretos sociais e o desmonte da Previdência Social e das leis trabalhistas.

    RAIMUNDO BONFIM, coordenador-geral da Central de Movimentos Populares, integra a coordenação da Frente Brasil Popular, que reúne movimentos de esquerda como CUT e MST

    LINDBERGH FARIAS, senador (PT-RJ), é líder da oposição no Senado

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