• Opinião

    Saturday, 27-Apr-2024 15:38:16 -03

    YUSSIF ALI MERE JR.

    Pensar fora da caixa na saúde

    19/01/2017 02h00

    Os prefeitos eleitos tomaram posse em um cenário político nacional delicado. Além dos sucessivos escândalos de corrupção e das discussões de reformas estruturais importantes para o país, os novos governantes terão de se mostrar excelentes gestores para administrar as dívidas dos municípios e atender aos anseios dos eleitores. E saúde é um dos principais desejos dos cidadãos.

    É importante frisar que saúde está diretamente ligada a educação, saneamento e economia. Um povo mais educado, cidades com bom tratamento de água e esgoto e um orçamento compatível para prevenção, promoção e assistência à saúde elevam os indicadores sociais.

    Como muitas ações para melhorar esses itens dependem das esferas federal e estaduais, o que os prefeitos podem fazer em prol da saúde dos munícipes?

    Muitos prometeram a construção, reforma ou ampliação de hospitais, que são estruturas caras para erguer, equipar e manter. Pesquisas internacionais mostram que um hospital, para ser viável operacionalmente, deve ter entre 150 e 200 leitos. Se a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda três leitos para cada grupo de mil habitantes, isso significa que um hospital só é viável em cidades com, no mínimo, 50 mil pessoas (150 leitos).

    Ocorre que dos 5.568 municípios brasileiros, 68% (ou 3.810) têm menos de 20 mil habitantes, segundo a última estimativa populacional divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    Só 690 cidades, ou 12,3% do total, possuem mais de 50 mil habitantes no país. Paralelamente, a infraestrutura hospitalar brasileira também é deficitária: somente 12% de nossos hospitais têm mais de 200 leitos.

    A solução para garantir estruturas hospitalares produtivas, alocar recursos eficientemente, atrair mão de obra qualificada e ainda combater o desperdício está na formação de redes assistenciais.

    A população de determinada região seria vinculada à uma rede que se inicia com a Unidade Básica de Saúde, passa por Unidades Intermediárias, hospitais de média complexidade chegando até o nível terciário da assistência à saúde.

    Concomitantemente a isso, os agentes comunitários de saúde devem ser valorizados e assumir um papel informativo e educativo junto à população, para que os cidadãos possam entender e fazer uso do sistema de saúde com todos os seus elos da melhor forma possível.

    Num país com as dimensões continentais como o nosso e as escandalosas diferenças regionais, não é tarefa fácil, mas é preciso começar.

    Há alguns obstáculos contra a iniciativa. O primeiro é a "municipalização da saúde" como é feita atualmente. Os municípios são responsáveis pelas ações de saúde; a União repassa recursos às cidades.

    A ideia é excelente, a descentralização é prevista na Constituição, mas no caso da saúde tem se mostrado ineficiente e, em muitos casos, principalmente nos municípios menores, a perda de escala se torna um fator quase intransponível em termos de custo e eficiência.

    Sem medo de errar, os melhores resultados na saúde serão obtidos pelos prefeitos que ousarem pensar fora da caixa, que tiverem coragem e disposição para quebrar paradigmas e atacar o mal pela raiz. Principalmente, por aqueles que colocarem os interesses coletivos acima dos pessoais ou partidários.

    YUSSIF ALI MERE JR., médico nefrologista, é presidente da Federação e do Sindicato de Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo

    PARTICIPAÇÃO

    Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024