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    Editorial

    Águas de janeiro

    02/02/2017 02h00

    O primeiro mês de 2017 termina como o quarto janeiro mais chuvoso em 75 anos. Uma boa notícia para o abastecimento de água na Grande São Paulo, após a crise aguda vivida em 2014 e 2015.

    A recuperação dos reservatórios é notável. No sistema Cantareira, o maior deles, chegou-se ao nível de 69,1% de preenchimento, algo que não se via desde maio de 2013.

    O pior passou. Embora sobrevivam queixas de moradores quanto à intermitência do fornecimento, as falhas parecem pontuais e não sintomas de desarranjo sistêmico.

    Não quer isso dizer, porém, que se possa baixar a guarda. O volume alto reservado hoje não garante, como o de 2013 não garantiu, imunidade a anomalias de precipitação como a ocorrida em 2014.

    Não faltam estudos a predizer que eventos extremos —excesso ou carência de chuvas— tendem a se tornar frequentes. É crucial adaptar-se à nova realidade.

    O governo do Estado e a companhia de saneamento, Sabesp, tomaram providências com tal objetivo. A principal delas foi aumentar a interligação entre as redes de distribuição alimentadas pelos diferentes reservatórios.

    Isso permite transferir volumes de um a outro, quando falta chuva aqui e há mais acolá, dando flexibilidade ao sistema. Mas não foi o bastante para evitar o racionamento dissimulado imposto pela redução de pressão na rede, o que deixava sem água as casas dos bairros mais altos.

    Adotou-se ainda um desconto, em fevereiro de 2014, na conta de água dos domicílios que reduzissem o consumo. A essa medida correta seguiu-se a introdução de multas, em dezembro do mesmo ano, para quem o aumentasse.

    Resultou daí uma mudança positiva no padrão de uso do recurso pela população. Basta verificar que, antes da crise, a Sabesp extraía 71 mil litros por segundo das represas metropolitanas, quantidade hoje reduzida a 61 mil l/s —mesmo com algum aumento do consumo após a extinção do bônus e da sobretaxa, em maio de 2016.

    É imperioso que o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) trabalhe para impedir que esse ganho seja revertido, sob pena de tornar-se necessário buscar água cada vez mais longe e a preço mais alto.

    Agora que a crise passou, cabe ao poder público enfrentar de maneira mais vigorosa o problema crônico das perdas na rede distribuidora. Uma megalópole com escassez de recursos hídricos, por baixa vazão ou alta poluição, não pode tolerar que um quinto da água tratada se esvaia em vazamentos nas tubulações.

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