• Opinião

    Wednesday, 01-May-2024 15:01:16 -03

    Editorial

    Meninas brilhantes

    05/02/2017 02h00

    Em seus 115 anos de existência, os prêmios Nobel foram conferidos a 881 pessoas. Nessa lista distinta aparecem os nomes de apenas 48 mulheres —uma delas, Marie Curie, ganhadora duas vezes, com a láurea de Física em 1903 e a de Química em 1911.

    Curie representa o típico ponto fora da curva: cientistas, escritores e ativistas do sexo feminino raramente recebem o Nobel, em particular os de... Física e Química.

    Além dela, só Maria Goeppert Mayer foi agraciada na primeira categoria. Na segunda, apenas outras três (Ada Yonath, Dorothy Hodgkin e Irène Joliot-Curie).

    Uma única mulher foi escolhida para o Nobel de Economia, Elinor Ostrom. As demais 42 figuram nas listas de Medicina, Literatura e Paz.

    Esses números dizem muito do lugar subalterno reservado a intelectos femininos nas ciências com forte componente matemático. A explicação padrão rezava que mulheres tinham menos aptidão para as abstrações desse campo de conhecimento, mas hoje se aceita que há aí mais ideologia que fatos.

    Estereótipos, no entanto, adquirem a condição de realidades concretas quando se espalham e se alojam, como se fatos inquestionáveis fossem, nas mentes das pessoas. Pior ainda quando os próprios prejudicados se convencem de que sua natureza coincide com aquilo que a cultura lhes atribui.

    Meninas, enfim, se afastam das carreiras em que sua alegada inaptidão para a matemática, ou uma suposta falta de inteligência em geral, traria grande desvantagem.

    Estudo recente das universidades de Illinois, Nova York e Princeton publicado na revista "Science" mostrou algo preocupante: a passagem dos 5 para os 6 anos de idade parece decisiva para garotas introjetarem a noção de serem menos "brilhantes" que meninos.

    Até os 5 anos, ao serem requisitadas a associar fotos de homens e mulheres com pessoas "muito inteligentes", elas atribuíam a característica indistintamente aos dois sexos. Acima disso, passou a manifestar-se um viés significativo em favor das figuras masculinas.

    Atribui-se a Albert Einstein o dito de que é mais fácil romper um átomo do que um preconceito. Mas ele não disse que seja impossível, e aí está o exemplo da iraniana Maryam Mirzakhan —primeira mulher a receber a medalha Fields, considerada o "Nobel da Matemática", em 2014— para provar que não é, de fato e de direito.

    Precisamos falar mais para as garotas de hoje sobre Mirzakhan, Curie e outras meninas que não acreditaram na explicação convencional e se determinaram a brilhar.

    editoriais@grupofolha.com.br

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024