• Opinião

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    editorial

    Sem carta branca

    13/02/2017 02h00

    Sob ataques públicos do presidente Donald Trump, uma corte de apelação ratificou, nesta quinta-feira (9), a decisão que suspende a proibição de entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países de maioria muçulmana.

    No entendimento unânime de três juízes -um deles indicado por presidente republicano-, não há evidência de que algum cidadão das nações vetadas (Iêmen, Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão e Síria) "tenha perpetrado um ataque terrorista nos EUA".

    Em outro trecho, a sentença afirma que o argumento segundo o qual decretos presidenciais sobre imigração estão isentos de escrutínio judicial "vai de encontro à estrutura fundamental da nossa democracia constitucional".
    Assinado em 27 de janeiro, o decreto que impôs restrições à entrada de refugiados, turistas e imigrantes constitui a decisão mais controversa tomada até agora pelo governo Trump.

    Em meio ao caos instalado nos aeroportos e protestos dentro e fora dos EUA, cerca de 60 mil vistos foram temporariamente cancelados, atingindo de estudantes a residentes permanentes.

    Os reveses sucessivos na Justiça não inspiraram o republicano a adotar um tom mais moderado ou conciliador sobre o tema. Pelo contrário: ele chamou a decisão de "política" e "vergonhosa"; prometeu, em mensagem publicada em rede social, escrita com letras maiúsculas, recorrer à Suprema Corte.

    Um dia antes, já havia criticado a audiência prévia que embasaria o julgamento e reclamado da suposta politização dos tribunais.

    Embora não haja decisão definitiva, a Judiciário mostra até aqui a esperada altivez diante do assédio despropositado do chefe do Executivo. Mesmo o juiz recém-indicado para a Suprema Corte, Neil Gorsuch, disse que os ataques do presidente são "desoladores".

    Na argumentação da Casa Branca, os juízes põem o país em risco e decidem sem ter acesso aos dados sigilosos referentes a ameaças advindas do terrorismo. A Constituição americana, ademais, confere ao presidente autoridade para tratar de imigração.

    Como entendeu a Justiça, medidas tão traumáticas não podem ser editadas sem ao menos justificativa compreensível para sua urgência. Em países de instituições sólidas, a vitória eleitoral não significa carta branca para governar.

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