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    Editorial

    O negócio da folia

    25/02/2017 02h00

    Por natureza uma festa de contrastes, o Carnaval espelha neste 2017 duas imagens bem diversas de um país acossado pela recessão.

    A fantasia se rendeu à realidade em muitos municípios. Segundo levantamento realizado por esta Folha, ao menos 37 eventos financiados por verba pública —desfile de escola de samba, blocos, shows— foram cancelados em 13 Estados.

    Comemorações tradicionais do interior paulista, como as de São Luiz do Paraitinga e Batatais, e da Bahia, como a de Barreiras, estão suspensas em razão da precária situação financeira de suas prefeituras. Seguiram o mesmo caminho pelo menos oito municípios de Minas Gerais e outros sete do Rio.

    Nas duas maiores metrópoles do país, contudo, o cenário é outro. Há muito o Carnaval se tornou fonte relevante de receitas para as economias de Rio e São Paulo, e o quadro atual não é exceção.

    É verdade que ajustes orçamentários também atingiram a festa no Rio —de todo modo, com menor severidade. O investimento da prefeitura ficou em R$ 56,5 milhões neste ano, pouco abaixo do montante de 2016; o número de blocos caiu de 505 para 451; escolas de samba perderam patrocínios.

    As expectativas, contudo, permanecem altas. A prefeitura estima que o evento movimentará, até o final de março, R$ 3 bilhões.

    Já São Paulo deixa para trás o epíteto de "túmulo do samba", criado pelo poeta carioca Vinicius de Moraes em contexto não inteiramente esclarecido.

    O Carnaval de rua ganhou forte impulso na cidade nos últimos anos, com apoio do poder local. Não soa mais descabido, como seria até pouco tempo atrás, comparar a folia paulistana a outras de tradição mais consagrada, como as do Rio e de Salvador.

    Neste ano, 391 blocos tomaram a cidade, 30% a mais do que em 2016 e só 13% menos que no Rio. Mede-se também a pujança pelo interesse despertado no setor privado. O patrocínio ao Carnaval de rua chegou a R$ 15 milhões, o triplo do montante do ano passado.

    Os eventos no Anhembi também receberam do município aportes mais amplos (R$ 39,3 milhões) ante os dois anos anteriores (R$ 34,1 milhões e R$ 27,8 milhões).

    A Confederação Nacional do Comércio calcula que a cadeia carnavalesca vá gerar cerca de R$ 750 milhões na região metropolitana.

    Percebe-se, portanto, que o Carnaval resiste e prospera quando inserido em engrenagem de larga escala. Além de manifestação popular, é negócio e política pública.

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