• Opinião

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    editorial

    Ficamos para trás

    03/03/2017 02h00

    Não deixa de causar espanto a notícia de que os salários da indústria na China já superam os de países como Brasil e Argentina, aproximando-se de níveis observados na periferia europeia.

    Segundo estudo da Euromonitor, com informações da Organização Internacional do Trabalho e estatísticas nacionais, os salários triplicaram na indústria chinesa de 2005 a 2016 —de US$ 1,2 para US$ 3,6 por hora.

    No mesmo período, houve queda de US$ 2,9 para US$ 2,7 no Brasil. Emergentes como México e África do Sul também amargaram piora; em outros, como Colômbia, Argentina e Tailândia, a alta foi tímida.

    O avanço do gigante asiático pode ser notado ainda na comparação com nações mais ricas. Um operário português recebia, em média, o quíntuplo do valor pago a um chinês; hoje, a vantagem caiu para cerca de 25%.

    O fenômeno não se restringe à indústria: considerados todos os setores, o salário médio por hora da China supera o brasileiro em 10%.

    São números impressionantes quando se leva em conta que poucos países de desenvolvimento dito tardio —aqueles cuja industrialização iniciou-se apenas a partir de meados do século 20— conseguiram se aproximar dos padrões de renda do mundo rico.

    Todos os exemplos de êxito encontram-se na Ásia e envolvem economias relativamente pequenas, casos de Coreia do Sul, Hong Kong, Cingapura e Taiwan.

    Afora um agressivo incremento da educação, o grupo tem em comum a integração com o resto do mundo como estratégia para aumentar a escala de produção e incorporar tecnologias.

    A novidade seria o surgimento de uma economia de grandes dimensões a trilhar o mesmo caminho —vale dizer, a superação do que se convencionou chamar de armadilha da renda média, condição na qual a maioria dos emergentes parece estar estacionada.

    O desempenho brasileiro, em particular, tem figurado entre os mais desanimadores. Aqui, a produtividade —a capacidade de produção por trabalhador, decisiva para a elevação da renda— mantém-se estagnada há décadas.

    Corre-se o risco de desperdiçar o bom momento demográfico, de maior proporção de adultos em idade produtiva na população, sem que se avance em reformas do sistema tributário, abertura comercial e melhora do ambiente de negócios, para nem mencionar os péssimos resultados da educação.

    Impedir que o país envelheça pobre e incivilizado é o nosso grande desafio contemporâneo.

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