• Opinião

    Tuesday, 30-Apr-2024 05:52:20 -03

    Phumzile Mlambo-Ngcuka

    Mudanças no mundo do trabalho

    08/03/2017 02h00

    No mundo inteiro, a maior parte das mulheres dedica um número excessivo de horas para as responsabilidades domésticas. Em geral, elas empregam nessas tarefas mais que o dobro de tempo gasto por homens.

    Essa divisão desigual de trabalho tem origem no aprendizado das mulheres e em suas possibilidades de obter um trabalho remunerado, fazer esporte ou ocupar posições de liderança na sociedade. Isso determina os padrões de desvantagens e vantagens.

    Queremos construir um mundo de trabalho distinto para as mulheres. À medida que crescem, as meninas devem ter a possibilidade de acessar ampla gama de carreiras e ser encorajadas a decidir para além das opções tradicionais nas áreas de serviço e atenção. Elas precisam de mais empregos na indústria, arte, função pública, agricultura moderna e ciência.

    As mulheres devem estar preparadas para fazer parte da revolução digital. Atualmente, elas têm somente 18% dos títulos de graduação em ciências da computação. No mundo, é necessária uma mudança significativa na educação de meninas, tornando-as capazes de competir com êxito aos "novos empregos" bem remunerados. Hoje as mulheres representam apenas 25% da força de trabalho da indústria digital.

    Segundo análise do grupo de alto nível da ONU sobre o empoderamento econômico feminino, alcançar a igualdade no ambiente de trabalho demandará uma ampliação considerável de oportunidades de emprego. Nesse sentido, os governos deverão promover a participação das mulheres na vida econômica.

    Coletivos importantes, tais como os sindicatos, terão de prestar o seu apoio. E deverá ser dada a voz para as próprias mulheres gerarem as soluções que permitam superar as barreiras atuais.

    Há muito em jogo: se a igualdade de gênero avançasse, poderia ser dado um impulso de US$ 12 bilhões no PIB mundial até 2025. É urgente atuar de maneira enérgica para eliminar a discriminação que vitima as mulheres em múltiplas frentes, o que converge para além do tema de gênero: orientação sexual, deficiência, idade avançada e raça.

    Outro ponto fundamental é garantir as condições de trabalho adequadas naquelas áreas em que as mulheres já estão excessivamente representadas e com baixa remuneração, sem falar da escassa ou nula proteção social.

    Trata-se, por exemplo, de buscar uma economia de cuidado sólida, que responda às necessidades das mulheres e promova a mudança de remuneração, que aplique condições igualitárias para o trabalho remunerado e não remunerado e abarque o acesso a financiamento e mercados.

    As mulheres que trabalham no setor informal também necessitam de reconhecimento e proteção. Isso requer políticas macroeconômicas propícias ao crescimento inclusivo, possibilitando uma aceleração considerável para o progresso, em benefício das 770 milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza.

    É preciso que todas as partes façam ajustes em favor do trabalho decente e na direção de benefícios econômicos para todas as pessoas, como prevê a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável com a promessa de um mundo igualitário.

    PHUMZILE MLAMBO-NGCUKA é subsecretária-geral das Nações Unidas e diretora executiva da ONU Mulheres. Foi vice-presidente da África do Sul de 2005 a 2008, na gestão de Thabo Mbeki

    PARTICIPAÇÃO

    Para colaborar, basta enviar e-mail para debates@grupofolha.com.br

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024