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    editorial

    Sem progresso

    23/03/2017 02h00

    Pela primeira vez em 11 anos, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil não avançou. O país repete a mesma pontuação da avaliação anterior, 0,75 —a escala varia de 0 a 1.

    Como nenhuma nação nessa faixa da lista apresentou melhora significativa, o Brasil permanece na 79ª posição no ranking global de 188 países, abaixo do Azerbaijão (78°) e empatado com Granada.

    O mau desempenho não surpreende. O IDH é um índice que se vale de indicadores de renda, saúde e educação. Computa-se a renda nacional bruta per capita, a expectativa de vida ao nascer e a média de escolaridade.

    Diante da recessão que afeta o país, era inevitável que pelo menos a renda caísse –e de fato foi o que se verificou. Em 2014, data da avaliação anterior, cada brasileiro auferia, na média, US$ 14.858.

    Em 2015, esse valor passou para US$ 14.145, retração de 4,8%. Como o recém-divulgado IDH 2106 usa indicadores coletados no ano anterior, já se anteveem más notícias na divulgação do próximo índice, tendo em conta os efeitos da crise nos últimos 12 meses.

    O resultado brasileiro não foi ainda pior porque as perdas no quesito renda foram compensadas por melhorias, mesmo que discretas, na expectativa de vida e na média dos anos de estudo.

    Resta agora a dúvida quanto ao impacto do colapso financeiro nesses dois fatores, que reagem de forma mais lenta a mudanças na economia. Diante da situação de penúria em que se encontram muitas famílias, não é incomum que jovens abandonem a escola para ajudar no orçamento doméstico.

    A colaborar na piora do quadro da educação houve ainda forte enxugamento do Fies, programa que oferece crédito subsidiado para estudantes universitários.

    Espera-se, ao menos, que a expectativa de vida não seja afetada pela ruína da qual só agora o país começa a se recobrar. Todavia, não se pode descartar que Estados à beira da falência de serviços públicos, como o Rio de Janeiro, registrem um aumento na mortalidade infantil.

    Até aqui, portanto, o IDH ainda não revela por inteiro a dimensão real do estrago legado pela gestão petista —de resto não limitado aos dados que compõem o índice.

    De todo modo, o país deveria estar aproveitando seu atual estágio demográfico, quando chega ao auge a parcela de pessoas em idade produtiva na população.

    Ficar estagnado nos anos finais desse bônus histórico já é um prejuízo atroz, talvez irrecuperável, para os que esperam ver o Brasil no clube dos países desenvolvidos.

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