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    editorial

    Expansão amarela

    29/03/2017 02h00

    O atual surto de febre amarela silvestre —transmitida de macacos para humanos, por meio de mosquitos– conta 492 casos confirmados, 1.101 em investigação e 162 mortes. É a pior emergência dessa doença viral em quatro décadas.

    O poder público ainda não se mostrou capaz de conter o surto iniciado em Minas Gerais nem a intranquilidade gerada na população. As infecções passaram a ocorrer também em São Paulo, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro.

    Na capital fluminense, teve lugar uma controvérsia sobre a presença do vírus em macacos mortos, alimentando temores de que a doença tivesse atingido a cidade. Laudos de instituições de renome chegaram a conclusões opostas, ao que parece por uso de metodologias diversas, o que deflagrou uma epidemia de desconfiança.

    Na dúvida, todos querem ser vacinados. Os postos de saúde se viram assoberbados pelo afluxo repentino de pessoas.

    Nesse ambiente de sobressalto e conturbação, há perigo de que a vacina acabe ministrada a quem não deveria recebê-la, como crianças com menos de seis meses, alérgicos a ovos e pessoas com deficiência imunológica. Embora eficaz e segura, nesses casos ela pode levar a impactos sérios sobre a saúde.

    Aplicada em quem não tem contraindicação, são raros os efeitos adversos que ocasiona. Reações alérgicas fortes, por exemplo, ocorrem na proporção de uma pessoa em cada grupo de 55 mil; complicações potencialmente mortais só afetam um vacinado em cada 250 mil.

    Pelo risco baixo e o alto benefício da proteção permanente, a vacinação generalizada já tinha recomendação oficial na maior parte do país. Com 80% da população imunizada, a doença não se propaga.

    Em Minas Gerais, contudo, a cobertura estava abaixo de 50%. Uma falha de prevenção que cobra agora preço alto.

    Para resolver esse tipo de deficiência, cogita-se incluir a vacina contra a febre amarela no calendário oficial e passar a imunizar todas as crianças, como recomenda, por exemplo, a Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

    Isso oneraria o SUS, é evidente. Neste ano, o sistema deverá despender R$ 150 milhões adicionais para adquirir 50 milhões de doses além dos 25 a 30 milhões usuais do programa de imunizações.

    Mais ainda, incluir a febre amarela no calendário infantil não resolveria a situação dos adultos. No longo prazo, contudo, a medida garantiria a cobertura capaz de bloquear essa doença, uma obrigação em que tem falhado de modo flagrante o Estado brasileiro.

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