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    editorial

    Saúde americana

    30/03/2017 02h00

    Nenhum país do mundo gasta tanto em saúde quanto os EUA, e a obsessão americana pelo tema não poderia deixar de transbordar para a esfera ideológica.

    Uma das bandeiras centrais da campanha de Donald Trump foi extinguir o programa para a área lançado por seu antecessor, Barack Obama, que visava incluir, com intervenção estatal, toda a população na rede de atendimento.

    O republicano prometeu um plano que prestigiasse a liberdade individual e as regras de mercado. Assegurou, ao mesmo tempo, que seria mantida a extensão da cobertura oferecida pelo Obamacare, como ficou conhecida a lei de 2010.

    A equação não era fácil de resolver, como ficou claro nos primeiros debates sobre o projeto de mudança da lei. O texto acabou por ser retirado da Câmara, na pior derrota política de Trump até aqui.

    Parece improvável, porém, que tudo possa ser mantido como está. O dispêndio dos Estados Unidos em saúde passa dos 17% do Produto Interno Bruto, mais que o dobro do brasileiro (cerca de 8%). Lá como aqui, o gasto do Estado é pouco menos da metade do total.

    Com problemas que se arrastam há décadas, o sistema público norte-americano baseia-se em dois programas criados nos anos 1960: o Medicare, voltado aos idosos, e o Medicaid, que busca ajudar a população de baixa renda a pagar pelos planos de saúde.

    Este último foi modificado pelas regras do Obamacare. Entre elas, obrigou-se toda empresa com mais de 50 empregados a fornecer cobertura para ao menos 95% deles; todo indivíduo, por sua vez, viu-se forçado, sob pena de multa, a contratar um plano básico.

    Além disso, foram elevados tributos sobre os mais ricos, e oferecidas verbas aos Estados que concordassem em ampliar o Medicaid.

    A despeito da extensão da assistência para cerca de 20 milhões de pessoas, o programa é alvo de críticas que não se originam apenas de republicanos opositores da expansão do governo. A imposição de pagar por um plano, por exemplo, é indigesta num país que cultua o direito de livre escolha.

    Depois da derrota na Câmara, Trump declarou que tentaria trabalhar com os democratas para aperfeiçoar a lei. A declaração soou incomum para o padrão belicoso do mandatário, mas se afigura como concessão ao pragmatismo.

    Dificilmente será possível substituir o Obamacare por uma estratégia baseada apenas no mercado.

    Por outro lado, os EUA terão de frear a expansão futura de seu gasto em saúde, um desafio análogo ao do Brasil com a Previdência.

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