• Opinião

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    editorial

    Russos nas ruas

    31/03/2017 02h00

    Depois de cinco anos de mutismo, as ruas da Rússia voltaram a ser palco de protestos contra o regime de Vladimir Putin. Atos contra a corrupção em quase uma centena de cidades provocaram surpresa e temor no Kremlin.

    Não é que haja ameaça palpável ao comando de Putin. Apesar de disseminadas, as manifestações não chegaram a reunir multidões capazes de paralisar o trânsito.

    O líder autocrático mantém elevada popularidade, com sua gestão aprovada por mais de 80% dos russos, e nada indica que não será reeleito no pleito presidencial de 2018 —quando completará 19 anos no poder, entre os postos de presidente e primeiro-ministro.

    Ainda assim, algo mudou.

    O mais claro indicativo foi a veemência com que o governo reagiu aos protestos. Determinou-se a detenção de mais de mil pessoas, entre elas o blogueiro Alexei Navalni, agora apontado como o principal líder oposicionista.

    Navalni tornou-se o grande impulsionador dos atos ao divulgar vídeo em que acusa Dmitri Medvedev, que se reveza com Putin nos papéis de presidente e premiê, de participar de um esquema de ocultação de patrimônio –que incluiria mansões suntuosas e um vinhedo na Toscana.

    A gravação alastrou-se por meio de redes sociais, num país em que os veículos profissionais de mídia na maioria são subservientes ao regime —uma importante exceção é o jornal "Novaya Gazeta". Chamou a atenção do Kremlin a alta participação de jovens na casa dos 20 anos entre os manifestantes.

    É difícil antecipar se a onda de protestos fenecerá —como feneceram as de 2011 e 2012— ou se dará início a pressões mais amplas e consistentes por mudanças.

    Embora nem sempre de maneira duradoura, a força de movimentos insuflados por meios digitais já foi demonstrada em outras partes do mundo. No Brasil, tal estratégia teve papel nos atos de 2013 e também no impeachment de Dilma Rousseff (PT).

    Os resultados de tais eventos podem ser ainda mais dramáticos, como se viu na Primavera Árabe, a partir do final de 2010. Os pleitos por mais democracia no mundo muçulmano precipitaram golpes ou conflitos sangrentos em países como Egito, Líbia e Síria.

    Nada parecido, obviamente, se observa na Rússia até aqui. Mais populosas, as manifestações do início da década foram vencidas pelo cansaço e pela repressão. Pelo sim, pelo não, Putin tenta debelar as de agora no nascedouro.

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