• Opinião

    Sunday, 05-May-2024 12:02:21 -03

    editorial

    Inverno paulista

    04/04/2017 02h00

    Fernando Henrique Cardoso iniciava seu governo, o México vivia a ameaça de um colapso econômico, o mundo assustava-se com o vírus ebola e os brasileiros começavam a usar a internet.

    Corria o ano de 1995, e é escusado dizer que muita coisa, na política ou fora dela, haveria de mudar desde então. Mas nem tudo.

    O comando tucano na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo parece ser um desses acontecimentos que desafiam o tempo, burlam o curso da história e contrariam a natureza das coisas.

    Como relatou reportagem da Folha nesta segunda-feira (3), o PSDB presidiu a Casa em 20 dos 22 últimos anos. Hoje, o posto é de Cauê Macris; seu pai, Vanderlei Macris, foi o escolhido em 1999, quando o PSDB se tornou a bancada mais numerosa do Parlamento estadual.

    No geral, a composição partidária do Legislativo reproduz-se tal qual era há 18 anos. Os tucanos mantêm 21 dos 94 deputados. O PT, principal partido de oposição, tinha 14 representantes em 1999 e conta com 15 atualmente.

    A imobilidade da Assembleia Legislativa produz, sem dúvida, efeitos nocivos sobre a política estadual. Se é difícil a um governador exercer seu cargo sem apoio parlamentar, a virtual ausência de uma oposição efetiva termina sendo fator de marasmo, de ausência de imaginação e, sobretudo, de controle e investigação sobre eventuais irregularidades.

    Tentativas de instalação de comissões de inquérito a respeito de aspectos duvidosos na gestão do Executivo são sistematicamente abafadas pela maioria governista.

    No caso mais recente, as repetidas suspeitas de irregularidade nas obras do Rodoanel motivaram apenas 18 assinaturas a favor de uma CPI na Assembleia, contra o mínimo exigido de 32.

    Beneficiando-se de autêntica blindagem parlamentar, o governador Geraldo Alckmin se vê à vontade para manter um perfil que, prudente e cauteloso segundo seus adeptos (que lhe garantiram três eleições ao cargo), não raro parece incolor e destituído de iniciativa.

    É curioso que, tanto no plano municipal quanto no federal, reviravoltas significativas se verifiquem nas preferências do eleitorado, enquanto tudo segue igual na sereníssima política paulista.

    Para além dos erros e acertos próprios a cada governo, predominam a falta de alternativas na oposição, o caciquismo regional e o uso da máquina para configurar um quadro em que o Legislativo estadual, ao longo de tantos anos de hibernação, termina sem que ninguém dê por sua falta.

    editoriais@grupofolha.com.br

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024