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    editorial

    Sobram dólares

    12/04/2017 02h00

    Na história brasileira, quase todas as crises econômicas estiveram associadas à escassez de moeda estrangeira para fazer frente a compromissos internacionais. Não desta vez.

    Nos últimos dois anos, houve queda acentuada do deficit do Brasil em suas transações de bens e serviços com o restante do mundo. Embora o país ainda contabilize mais despesas que receitas, o rombo caiu de US$ 104 bilhões (4,2% do PIB) em 2014 para apenas US$ 23,5 bilhões (1,3% do PIB, patamar confortável) no ano passado.

    Registre-se que parte da queda se deveu à brutal recessão, que contraiu as importações em quase 40%, e à desvalorização do real, que encolheu os gastos com viagens e compras em geral.

    De toda forma, a melhora das contas ficou mais nítida neste ano, ancorada sobretudo nas exportações do setor agrícola, cuja safra pode atingir o recorde de 220 milhões de toneladas, superando em 17% a cifra do ano passado.

    No primeiro trimestre, o país acumula saldo comercial positivo de US$ 14,4 bilhões, alta de 72% em relação ao mesmo período de 2016. As projeções mais recentes para este ano apontam para exportações até US$ 60 bilhões acima das importações —um recorde, em valores nominais.

    Além disso, continuam fortes os investimentos estrangeiros no setor produtivo. Foram US$ 84,4 bilhões nos últimos 12 meses, uma boa surpresa num contexto ainda recessivo.

    Tal sobra de dólares tem sido mais do que suficiente para permitir às empresas brasileiras honrar suas dívidas externas sem pressionar as cotações. Prova disso é a valorização do real nos últimos meses, apesar das intervenções do Banco Central no mercado.

    No quesito das contas externas, portanto, o país saiu do grupo dos emergentes frágeis, como vinha sendo considerado, de forma errônea, por analistas internacionais.

    Falta agora assegurar a solvência interna do governo em moeda nacional, o que dependerá da aprovação das reformas que tramitam no Congresso, em especial a da Previdência. Nesse cenário favorável, os juros poderão cair a um dígito, e o país estará novamente entre os mais interessantes destinos de investimentos.

    Não é implausível, portanto, um aumento ainda mais expressivo na entrada de recursos. O desafio então será evitar uma valorização excessiva do real, usual nos ciclos de otimismo das últimas décadas.

    É preciso romper esse padrão que mina a atividade exportadora e, com ela, as chances de ganhar escala e eficiência com a conquista de novos mercados.

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