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    editorial

    Bilhete de ida e volta

    17/04/2017 02h00

    Oportunismos de toda sorte fizeram do vaivém em torno das tarifas de transporte coletivo em São Paulo, recém-majoradas, uma autêntica comédia de erros. Nesse enredo canhestro, ora deu-se mal o contribuinte, ora o consumidor.

    Numa das medidas controversas que anunciou ainda antes de assumir a Prefeitura de São Paulo, João Doria (PSDB), um dia após sua vitória no pleito, decidiu por congelar o preço das passagens de ônibus na capital.

    O ato intempestivo do prefeito elevou as despesas da prefeitura com subsídios ao sistema, que devem ultrapassar os R$ 3 bilhões neste ano.

    Provocou ainda um constrangimento para o governador Geraldo Alckmin, seu correligionário e padrinho político. Nos últimos anos, alterações nas tarifas de metrô, trens e ônibus foram decididas em conjunto por governo estadual e prefeitura.

    Temendo arcar sozinho com o ônus político do reajuste, o governador acompanhou o prefeito e resolveu manter as passagens de metrô nos atuais R$ 3,80.

    O duplo congelamento representa uma sangria orçamentária. Somados os gastos estaduais e municipais, os subsídios poderão chegar neste ano a R$ 5 bilhões —valor suficiente para construir uma linha de metrô equivalente à 4-amarela, com 9,5 km de trilhos.

    O custo de tal desatino logo se fez notar. Nos últimos dias do ano passado, Alckmin e Doria anunciaram em conjunto um reajuste bem acima da inflação dos bilhetes da integração de ônibus com trem ou metrô, numa espécie de compensação pelas aparentes bondades anteriores.

    Nessa sequência atabalhoada de eventos, o que em tese seria um benefício ensejou um aumento de até 35% em algumas das modalidades de tarifas. Pune-se, assim, justamente o cidadão de baixa renda, aquele que mais faz uso do transporte público.

    Em outra reviravolta, contudo, a Justiça, ignorando os rombos nas contas do Estado e do município, atendeu a pedido da bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo e aventurou-se a suspender o aumento no começo de janeiro.

    A decisão foi revertida no início deste mês pelo Superior Tribunal de Justiça, em resposta a recurso em que o governo estadual alegava prejuízos de R$ 400 milhões ao ano.

    Por certo não se deve desprezar, sobretudo em cenário de recessão e desemprego elevado, o impacto social e político de elevar o preço do transporte público.

    A via demagógica, porém, revela-se quase sempre estreita, como demonstra o melancólico exemplo paulistano.

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