• Opinião

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    GUILHERME BOULOS e RAIMUNDO BONFIM

    Brasil vai cruzar os braços

    28/04/2017 02h00

    O país vai parar nesta sexta (28). Milhões de trabalhadores -entre motoristas, professores, metroviários e bancários- cruzarão os braços nesta que promete ser a maior greve dos últimos 30 anos -e isso exatamente no centenário das históricas greves de 1917.

    Na última quarta-feira (26), a Câmara aprovou o projeto da reforma trabalhista. Trata-se do mais grave ataque aos direitos dos trabalhadores assegurados há mais de 70 anos pela CLT. A votação foi feita a toque de caixa, após manobra do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que fez lembrar o descaramento de seu antecessor, Eduardo Cunha.

    Sem discussão com a sociedade, a proposta altera mais de cem pontos da lei. Dentre as aberrações estão a liberação para grávidas trabalharem em locais insalubres, a contratação do trabalhador por hora (trabalho intermitente) e a autorização de que acordos entre empresa e empregados estejam acima da lei.

    Este último ponto abre brecha, por exemplo, para jornadas de 12 horas sem pagamento de hora extra. A isso se soma ainda o "libera geral" da terceirização.

    A greve geral de hoje também será um grito contra a reforma da Previdência proposta pelo governo. Aliás, chamemos a coisa pelo nome: não se trata de reforma, mas de um desmonte do direito à aposentadoria. Os principais pontos já são bem conhecidos, como a idade mínima de 65 anos e a exigência de contribuição de 40 anos para aposentadoria integral, além do ataque à aposentadoria rural.

    Ao mesmo tempo, curiosamente, a proposta não mexe nos verdadeiros privilégios, os recebidos por oficiais militares e os próprios parlamentares. Não por acaso, mais de 90% do povo está contra a reforma, segundo pesquisa Vox Populi.

    O mais espantoso é que esse pacote amargo contra a maioria é apresentado por um governo ilegítimo, que conta com apenas 8% de aprovação. Como se não bastasse, oito de seus ministros são investigados por corrupção, e suspeitas recaem sobre o próprio presidente.

    Quem pretende aprovar esses retrocessos é o Congresso Nacional mais desmoralizado da história da República, sem credibilidade e com os chefes das duas casas igualmente investigados. Qual é a autoridade dessa turma para decidir o futuro do povo brasileiro?

    Michel Temer e a maioria do Congresso agem de costas para a sociedade. Acreditam que não precisam prestar contas a ninguém, a não ser ao 1% do grande empresariado e da banca que se beneficiam com essas medidas acintosas.

    Nossa resposta será parar o país hoje, com greves, bloqueios de vias e mobilizações. Em São Paulo haverá uma manifestação no largo da Batata, às 17h, organizada pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular. A passeata seguirá até a casa de Temer. O grito das ruas será um não categórico à retirada de direitos e a este governo.

    Caso os ouvidos de Brasília permaneçam surdos à vontade da maioria, mesmo com o forte recado de hoje, o país poderá entrar de forma mais profunda na rota do conflito social. O ensinamento histórico é claro: quando se forma um abismo entre o povo e quem deveria representá-lo, abre-se o caminho para convulsões e desobediência civil.

    Ainda há tempo de tomar as ruas e barrar os retrocessos. Aos parlamentares, ainda há tempo de escutar a maioria.

    Caso insistam em aprovar medidas rejeitadas por 90% do povo, devem estar preparados para enfrentar esses 90% nas ruas e nas urnas. Nenhum direito a menos! Fora Temer!

    GUILHERME BOULOS é coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e da Frente Povo Sem Medo

    RAIMUNDO BONFIM é coordenador geral da CMP (Central de Movimentos Populares) e da coordenação nacional da Frente Brasil Popular

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