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    editorial

    Trump, cem dias

    29/04/2017 02h00

    Talvez a principal conclusão a se extrair dos cem primeiros dias de governo do presidente dos EUA, Donald Trump, seja a evidência de que o sistema de freios e contrapesos continua a exercer papel crucial na democracia americana.

    O voluntarismo e o estilo personalista do magnata republicano, que suscitaram até temores de um ímpeto autocrático, viram-se cerceados pela Justiça, pela política institucional, pelo livre exercício do jornalismo e pela opinião pública.

    Nesse breve período, Trump pôde constatar que o país não é seu grupo empresarial e que as funções de um presidente da República não coincidem com as de um CEO.

    A tradição de submeter mandatários a um escrutínio em seus primeiros cem dias de governo tem origem na gestão de Franklin Delano Roosevelt, que adotou uma série inédita de medidas no início dos anos 1930 para reverter os efeitos da recessão que deprimia o país.

    Ao chegar à Casa Branca, Trump parece ter se inspirado em seu antecessor: deu início a uma frenética maratona de assinatura de decretos, com o objetivo de cumprir promessas e anular medidas tomadas pelo democrata Barack Obama.

    Em perspectiva conservadora, muitas dessas ordens presidenciais foram bem-sucedidas ao atacar regulamentações em áreas diversas, como contratos federais, uso de terras, ambiente e educação.

    Nem tudo, porém, aconteceu como o republicano imaginava. A Justiça, por exemplo, suspendeu decretos de sua gestão que impediam a entrada de imigrantes oriundos de países com maioria muçulmana.

    Fiasco ainda mais ruidoso deu-se na tentativa de substituir o Obamacare, o sistema de saúde criado pelos democratas. A despeito de ser maioria na Câmara, o Partido Republicano não conseguiu votos suficientes para aprovar o projeto.

    Trump também amargou a queda de seu primeiro conselheiro de Segurança Nacional, em decorrência de revelações sobre contatos dissimulados com o governo da Rússia.

    Criticado implacavelmente pelos veículos de imprensa, o presidente obteve um raro momento de trégua quando mudou os rumos de sua política internacional, ao determinar um bombardeio de mísseis contra a Síria. Na sequência afastou-se da Rússia, reabilitou a Otan (aliança militar ocidental) e passou a tratar a China com inesperada deferência.

    Há ainda muito pela frente para que se possa ter um juízo mais sólido do governo Trump. Por ora, como indicam seus baixos índices de aprovação, o presidente está distante de conquistar a confiança de setores fora das fronteiras de seus redutos eleitorais.

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