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    Plantas e cartazes

    05/05/2017 02h00

    Boas ideias de gestão pública por vezes não estão à altura da propaganda que delas se faz. É o caso do corredor verde na avenida 23 de Maio, em São Paulo.

    Sem dúvida há mérito em levar painéis com plantas e folhagens aos muros das vias urbanas. Além do prazer visual, o projeto contribui para a regulação da temperatura e a absorção do barulho.

    Não convém exagerar, contudo, a importância da medida para a preservação ambiental —um risco em que a administração municipal incorreu ao tratá-la como compensação pela retirada de árvores por obras da cidade.

    A política foi regulamentada pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT) em 2015. Na ocasião, firmou-se acordo para que uma construtora, em vez de plantar cerca de 26 mil árvores, providenciasse oito jardins suspensos —três deles foram transferidos pelo atual prefeito, João Doria (PSDB), para a 23 de Maio.

    Alardeia-se que se trata do maior corredor verde do mundo; seus 3 km, entretanto, são irrisórios para o fim almejado.

    Dado o número de árvores que deixaram de ser plantadas, o muro deveria ter extensão de ao menos 1.500 km para proporcionar o efeito ambiental correspondente, conforme noticiou esta Folha.

    Em boa hora, portanto, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente decidiu descartar novos acordos do gênero. Eventuais futuros projetos de paredes verdes, desejáveis, não terão caráter de compensação ambiental.

    Por motivo diverso, descompasso entre resultado e propaganda também se dá com o Cidade Linda, uma das bandeiras de Doria.

    O nome do programa de zeladoria faz lembrar o de uma lei, Cidade Limpa, sancionada há pouco mais de uma década pelo ex-prefeito Gilberto Kassab, hoje no PSD. O diploma legal, ainda em vigor, proíbe grandes painéis de publicidade nas ruas paulistanas.

    Doria, no entanto, parece enxergar com outros olhos o conceito. Cartazes anunciando seu Cidade Linda pipocaram do lado direito da rodovia Ayrton Senna na entrada de São Paulo, à vista de quem chega pelo Aeroporto Internacional André Franco Montoro.

    Não se trata de descumprimento da lei, pois os painéis estão no município de Guarulhos, que não conta com legislação comparável. Mas é evidente que se afronta o espírito da norma pela qual o tucano deve zelar em São Paulo: poluição visual é poluição visual.

    É pena, ademais, que tais métodos tenham sido usados para propagar justamente um projeto que preza a limpeza urbana.

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