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    editorial

    Como acolher

    05/06/2017 02h00

    Mesmo nas democracias mais sólidas, crises econômicas costumam colocar à prova os valores de tolerância e respeito à diversidade. O Brasil, que ainda convalesce de profunda recessão, tem hoje diante de si o desafio de receber venezuelanos que fogem da situação calamitosa em seu país.

    Foram mais de 3.000 pedidos de refúgio apenas nos primeiros cinco meses de 2017, praticamente o mesmo número de todo o ano passado. A conta não inclui outros milhares que cruzam a fronteira na condição de turistas, ou mesmo clandestinamente, e acabam por permanecer aqui.

    Integram esse contingente cerca de 500 índios waraos, numerosa etnia do nordeste da Venezuela.

    O grupo instalou-se em Manaus, onde viveu de maneira extremamente precária até ser conduzido a um abrigo. Já foram registradas três mortes, sendo duas de bebês, por catapora e pneumonia.

    A resposta inicial do poder público foi atabalhoada. O prefeito Arthur Virgílio (PSDB) decretou estado de emergência social em 8 de maio; em seguida pediu a Brasília um campo de refugiados e até algum bloqueio na fronteira. Felizmente, não foi atendido.

    Nem se comente o despropósito da ideia de barreira física à imigração. O campo aventado tampouco tem cabimento: é medida extrema, quando há necessidade de dar assistência integral a dezenas de milhares de pessoas.

    Criticadas por representantes da Organização das Nações Unidas, as propostas foram deixadas de lado pelo governo federal. Uma comitiva oficial está em Roraima, principal destino dos venezuelanos, estudando como atendê-los.

    O plano terá de envolver algum tipo de amparo emergencial, além de regularização de documentos. O caso dos índios é, obviamente, mais complexo, pela dificuldade de integração à vida urbana.

    O fluxo de imigrantes tende a se manter alto, com o impulso da repressão e do desabastecimento sob o regime do chavista Nicolás Maduro.

    Caminha-se para o primeiro teste da nova Lei de Migração, menos burocratizada e mais acolhedora que o aposentado Estatuto do Estrangeiro. A legislação é generosa, mas precisa ser complementada por políticas de governo.

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