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    editorial

    Falhas na direção

    07/06/2017 02h00

    A violência e a mortalidade no trânsito brasileiro são notórias, mas nem por isso é menos chocante observar em perspectiva as estatísticas dessa triste realidade.

    Registraram-se no país em 2015, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde, quase 47 mil mortes em acidentes de trânsito —23,4 a cada 100 mil habitantes.

    Isso equivale, numa comparação recorrente que ilustra o descalabro da cifra, à queda diária de um avião com 130 passageiros.

    O cenário de insegurança confere ao Brasil um vexaminoso quarto lugar no ranking desses óbitos no continente americano, atrás apenas de nações de população e economia inexpressivas, como Belize (24,4) e República Dominicana (29,3), ou em conjuntura calamitosa, caso da Venezuela (41,5).

    A despeito do papel central da imprudência humana, torna-se cada vez mais consensual a ideia de que a omissão do Estado é fator preponderante nessas ocorrências.

    Não parece ser fortuita a correlação entre subdesenvolvimento e letalidade no trânsito. Segundo a OMS, países de média ou baixa renda respondem por 54% dos veículos, enquanto 90% dos acidentes fatais se dão em seus territórios.

    O Brasil, reconheça-se, adotou nas duas últimas décadas medidas positivas para combater esses exemplos de selvageria. A Lei Seca, a obrigatoriedade de airbag frontal nos veículos novos e o incremento da fiscalização contribuíram para alguma melhora.

    Desde 2009, porém, observa-se aumento nas mortes, de 19 por 100 mil naquele ano. Fica o país mais longe de meta da ONU de reduzir os casos letais pela metade até 2020.

    Entre tantas más notícias, alguns caminhos promissores podem ser vislumbrados a partir de conclusões dos participantes do Fórum de Segurança no Trânsito, promovido por esta Folha na semana passada.

    Ações simples, como iluminar faixas de pedestres e alargar calçadas em locais mais movimentados, obtiveram resultados significativos em outros países. Já o planejamento estratégico, notória carência brasileira, começa a ser valorizado.

    Vai nesse sentido o InfoMapa, sistema on-line do Estado de São Paulo que informa o local das mortes e dados sobre acidentes, com vistas a detalhar os pontos mais perigosos.

    São inúmeras as falhas de direção no trânsito brasileiro, e não apenas por parte dos condutores. Motoristas e pedestres, é óbvio, não estão isentos de responsabilidade; são apenas, porém, a ponta mais visível de uma complexa cadeia que compete ao poder público, com atuação mais efetiva na infraestrutura e na prevenção, tornar mais civilizada.

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