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    EDITORIAL

    Nem o básico

    12/06/2017 02h00

    Muita coisa persiste por reformar, no Brasil, mas ainda resta muito também por construir. O saneamento decerto figura no alto da lista dos serviços básicos que deveriam ser prestados pelo poder público, de forma universal, e seguem distantes disso.

    Segundo o Instituto Trata Brasil, apenas 43% dos dejetos produzidos pela população terminam tratados. A pior situação prevalece na região Norte (16%), e a melhor, no Centro-Oeste (50%). O rico Sudeste posiciona-se pouco acima da constrangedora média nacional: 47%.

    O que não é tratado vai parar nos rios e represas. Não é outra a razão para a morte de rios como o Tietê e o Pinheiros, na região metropolitana de São Paulo, e para programas bilionários de despoluição que nunca terminam.

    São raras, nesse campo, boas notícias como a desta quarta-feira (7): inaugurou-se uma estação de tratamento de esgoto em Barueri, na Grande São Paulo. A nova instalação poderá tratar dejetos de 1,2 milhão de pessoas.

    Com isso deve melhorar o índice de beneficiamento do esgoto gerado na área atendida pela Sabesp (companhia paulista de saneamento), que em 2016 foi de 69% –um desempenho vergonhoso para o Estado mais desenvolvido do país.

    O governador Geraldo Alckmin (PSDB) prometeu, em março, universalizar até 2021 o saneamento básico na região metropolitana. O anúncio se deu em inauguração de obras de desassoreamento do Tietê em Guarulhos –município que pouco tempo atrás tratava meros 3% do esgoto e só a partir de 2008 deslanchou obras para três estações de processamento.

    Se a construção dessa infraestrutura anda lentamente na parte mais desenvolvida do país, imagine-se no restante. A cobertura de tratamento de esgoto progrediu na última década, mas em ritmo de jabuti, um ponto percentual por ano.

    Nessa toada, torna-se inexequível a meta de alcançar a universalização até 2033, como prevê o Plano Nacional de Saneamento Básico.

    Segundo a consultoria GO Associados, estamos com pelo menos 20 anos de atraso em relação ao que seria desejável para atingir o objetivo. Despendem-se no país R$ 11 bilhões por ano nas redes de água e esgoto, quando seriam necessários R$ 20 bilhões anuais.

    A diferença para que se consiga manter a água limpa é, pois, de R$ 9 bilhões. A comparação de tal valor com o que se esvai pelos ralos da corrupção e da ineficiência ajuda, sem dúvida, a entender por que o Estado fracassa nas tarefas mais comezinhas. Com efeito, sobra muito o que sanear no país.

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