• Opinião

    Thursday, 02-May-2024 13:42:25 -03

    editorial

    Mananciais ameaçados

    20/06/2017 02h00

    Era de esperar, após a grave crise hídrica que se abateu sobre a região metropolitana de São Paulo em 2014-15, que o poder público dedicasse mais cuidado à proteção de seus mananciais. Não foi o que se observou nos últimos quatro anos.

    Conforme reportagem desta Folha publicada no sábado (17), nada menos que 75 invasões irregulares nesse período junto às represas Billings e Guarapiranga. Os dois reservatórios na zona sul de São Paulo garantem o abastecimento de 5,6 milhões de pessoas.

    Se tal número não basta para que os governos municipal e estadual deem mais atenção ao problema, o que seria preciso, então, para que se dedicassem a ações mais efetivas para combatê-lo? Até aqui, mais parece que decidiram fazer vista grossa diante do descalabro.

    Basta ver imagens aéreas do mar de casas nas margens para perceber que o descaso vem de longe. A ocupação de áreas que deveriam permanecer protegidas, para assegurar a recarga dos reservatórios, começa ou com invasões de famílias pobres ou com o parcelamento irregular do solo por empresários inescrupulosos.

    Com a lentidão administrativa e judicial para identificar proprietários e promover a reintegração de posse, barracos de invasores logo cedem lugar para casas de alvenaria. Ruas se formam, comércio e serviços se espalham. Sem rede de esgoto, dejetos vão para a represa.

    Não demora a surgir a demanda por regularização dos terrenos e construções. Líderes comunitários, muitos dos quais atuam também como cabos eleitorais, pressionam prefeitura e vereadores para que a área invadida receba água, luz e títulos de propriedade.

    Em novembro de 2013, por exemplo, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) promoveu a invasão de espaço, conhecido como Nova Palestina, a menos de um quilômetro da Guarapiranga.

    Um ano depois, a Câmara Municipal declarou a área Zona Especial de Interesse Social. Em seguida, a prefeitura, em parceria com o governo estadual, anunciou a construção no local de prédios para abrigar 14 mil pessoas.

    Embora as 75 invasões mencionadas tenham acontecido na administração de Fernando Haddad (PT), seria ingênuo deixar de reconhecer que a fonte de origem da deterioração dos mananciais brota de uma negligência generalizada, contumaz e suprapartidária.

    editoriais@grupofolha.com.br

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024