• Opinião

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    editorial

    Anvisa esquálida

    24/06/2017 02h00

    Ao sancionar o texto que libera para venda no país três medicamentos anorexígenos (emagrecedores), o presidente interino, Rodrigo Maia (DEM), arrancou mais um naco da autoridade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

    O caso diz respeito às substâncias anfepramona, femproporex e mazindol. Esses inibidores de apetite derivados de anfetaminas haviam sido proibidos pela Anvisa em 2011, sob a justificativa de que a perda de peso por eles induzida era pouco representativa —além de difícil de manter após interrupção do tratamento— e de que efeitos colaterais eram excessivos.

    Apenas a anfepramona é vendida nos Estados Unidos, mas está proibida na Europa. O mazindol foi suspenso nos EUA e na Europa em 1999. O femproporex jamais foi autorizado nos EUA e terminou banido na Europa em 1999.

    Ao que parece, os parlamentares brasileiros se consideram mais esclarecidos do que os técnicos das agências reguladoras da União Europeia, dos Estados Unidos e de seu próprio país.

    Ou, então, dão menos ouvidos a eles do que a proprietários de clínicas de emagrecimento, que pressionam para manter mais opções à mão, sem maior preocupação com a saúde de seus pacientes.

    Conforme noticiou esta Folha, Rodrigo Maia —presidente da Câmara dos Deputados, ocupando o Planalto em razão de viagem de Michel Temer (PMDB)— consultou entidades médicas a respeito do assunto, tendo obtido opiniões favoráveis à sanção do diploma.

    "Entendo o drama de milhares de brasileiros que têm níveis perigosos de obesidade e precisam ser levados a sério, e com responsabilidade, tendo acesso a um tratamento médico controlado", escreveu.

    Como em qualquer tema mais complexo, haverá divergências entre especialistas. Mas, para além dessa medida particular, está em jogo a confiança num órgão público encarregado de algo fundamental, a segurança farmacológica da população.

    A Anvisa, por certo, não dá exemplos de eficiência. Encarregada de expedir as licenças para a comercialização de remédios no país, a agência por vezes leva anos na análise dos processos, para prejuízo dos consumidores doentes.

    Para agravar o quadro, não raro o Executivo compõe sua diretoria com indicações políticas, outra irresponsabilidade.

    Ao presidente da República, interino ou não, cabe restabelecer a autoridade da agência, e não contribuir para erodi-la ainda mais.

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