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    editorial

    Depois de Mossul

    13/07/2017 02h00

    Safin Hames/AFP
    TOPSHOT - Members of the Iraqi forces stand on their BMP-1 infantry fighting vehicles as they hold a position in the village of Jarif, some 45 kilometres south of Mosul, on November 12, 2016, after retaking it from Islamic State (IS) group jihadists. / AFP PHOTO / SAFIN HAMED ORG XMIT: SH02
    Soldados iraquianos em terreno deserto nas redondezas de Mossul; cidade foi recuperada pelo Exército

    Com forte apoio militar dos EUA, o Iraque finalmente retomou o controle de Mossul, encerrando três anos de domínio do Estado Islâmico (EI) sobre a segunda maior cidade do país. Trata-se de uma boa notícia na luta contra a facção terrorista, cujo desfecho, entretanto, dependerá também de ações fora dos campos de batalha.

    A perda de Mossul e o crescente cerco a Raqqa, o bastião mais importante do EI na Síria, esvaziam o delirante projeto de criar um califado sobre parte das duas nações.

    Sem dois terços da área controlada em 2014, a milícia vem perdendo as suas maiores fontes de financiamento, incluindo a taxação dos habitantes, confisco de bens e o contrabando de petróleo —sua renda mensal caiu 80% do segundo trimestre de 2015 para o mesmo período deste ano, segundo estudo da consultoria IHS Markit.

    A derrota em Mossul, no entanto, pouco arranha a capilaridade do EI, hábil em inspirar militantes e "lobos solitários" por meio de propaganda eletrônica, e em manter redes de colaboradores onde boa parte da população não reconhece o poder público, caso do Iraque e da Síria, além do Afeganistão.

    Finda a etapa militar, assim, cabe ao governo de Bagdá, controlado por xiitas, estabelecer uma política de reaproximação com a minoria sunita, marginalizada no poder desde a queda de Saddam Hussein, em 2003. Tal racha sectário viabilizou a tomada de Mossul.

    Nesse sentido, urge começar a reconstrução da cidade, acompanhada de ações para moradores traumatizados após três anos de opressão, fora os contínuos bombardeios aéreos norte-americanos.

    No plano internacional, ainda falta levar adiante uma estratégia unificada para a região.

    Veja-se o caso da Síria, onde EUA e Rússia combatem o EI por vias opostas: enquanto Washington apoia grupos antigovernamentais, como as Forças Democráticas, Moscou é o principal sustentáculo do ditador Bashar al-Assad.

    A recente acusação de que o Qatar financia a Irmandade Muçulmana —vista como facção terrorista por países como Arábia Saudita e Egito— afastou ainda mais a possibilidade de uma ação conjunta.

    O EI tem colhido algum êxito na tentativa de se apresentar como alternativa a regimes autoritários e em explorar divisões diplomáticas. Será necessário, portanto, suplantá-lo também nesse território.

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