• Opinião

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    editorial

    Irrealismo

    22/07/2017 02h00

    Sérgio Lima - 21.mar.2000/Folhapress
    ORG XMIT: 451101_1.tif Vista do Congresso Nacional, em Brasília - DF. (Brasília - DF, 21.03.2000 - Foto de Sérgio Lima/Folhapress/Digital)
    Vista do Congresso Nacional, em Brasília

    Um bom indicador de que o Brasil vive uma crise política aguda é o ressurgimento da defesa do parlamentarismo —uma solução sempre lembrada em momentos de fragilidade do presidente.

    Desta vez, fala-se na instalação de uma comissão especial no Congresso para examinar o tema, à qual anuiu o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).

    Constatou-se inclusive que está disponível uma proposta de emenda à Constituição que institui esse regime de governo, datada de 1995 e pronta para votação no plenário da Câmara dos Deputados.

    Convém discernir o que o debate tem de meritório e de casuístico —além de pouco realista.

    Há muito esta Folha considera o parlamentarismo mais moderno e funcional que o presidencialismo. Os argumentos renovam-se com os acontecimentos mais recentes: dos quatro chefes de Estado eleitos após a redemocratização, dois foram depostos; agora, temos um presidente acusado de corrupção no exercício do mandato.

    Por imperfeitos que sejam todos os sistemas, a entrega do comando do governo a um primeiro-ministro apontado pelo Legislativo mostra vantagens consideráveis.

    Facilita-se a resolução de crises, ao permitir a dissolução sem traumas de gabinetes desacreditados e, nos casos mais graves, a antecipação de eleições.

    Em grande medida, ademais, o regime favorece uma ação mais consequente da maioria dos deputados e senadores, que se tornam corresponsáveis pelos êxitos e fracassos da administração federal.

    Mas, se inexiste dúvida de que o país necessite proceder com urgência a uma reforma política, tampouco se vê sinal de que uma proposta tão complexa como a adoção do parlamentarismo possa amadurecer em pouco tempo.

    A mudança implicaria amplo redesenho institucional, não limitado à escolha e ao funcionamento do Congresso. No Executivo, por exemplo, o exército de assessores nomeados, sujeitos a substituição a cada troca de guarda no Palácio do Planalto, teria de dar lugar a uma burocracia estável.

    Na atual conjuntura política, em que o prestígio dos parlamentares é mínimo, parece mais recomendável o foco em aperfeiçoamentos mais pontuais —seriam grandes avanços, nesse sentido, o voto distrital misto e uma cláusula de desempenho capaz de reduzir a proliferação de partidos.

    No mais, recorde-se que os brasileiros mostram desconfiança histórica quanto à mudança do regime de governo. Já houve duas consultas populares sobre a matéria, e o presidencialismo saiu vitorioso em ambas, nos anos de 1963 e 1993.

    A lealdade democrática exigiria que uma nova investida no tema se desse também por meio de plebiscito, a fim de que não pareça mero conchavo parlamentar.

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