• Opinião

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    Barbara Sturm

    Alice Guy-Blaché, pioneira do cinema

    25/07/2017 02h00

    Alice Guy-Blaché realizou o primeiro filme narrativo da história do cinema em 1896. No ano seguinte ela se envolveu na produção de 16 trabalhos e em 1900 foi diretora de produção de 51 curtas-metragens. Mas quem foi Alice Guy-Blaché?

    Mesmo pesquisadores e profissionais do cinema pouco conhecem a carreira dessa pioneira.

    Secretária na Gaumont pouco antes de a empresa migrar da fotografia para o cinema e se tornar o estúdio francês pioneiro na realização e exibição de filmes, Alice acompanhou o início da pesquisa e comercialização de câmeras para registrar e reproduzir imagens em movimento.

    Logo após uma demonstração dos irmãos Lumière, pediu emprestada uma câmera e, com técnicas especiais de fotografia e um grupo de amigos atores, filmou em 1896 o curta-metragem "The Cabbage Fairy" (a fada dos repolhos), inspirado em um famoso conto francês. Foi a primeira pessoa a realizar uma sequência de imagens que contava uma história.

    Em 1910, Alice migra com seu marido para os EUA, onde funda o Estúdio Solax, o maior do período pré-Hollywood.

    Em 25 anos de carreira, Alice participou da criação de mais de mil filmes, mas apenas nos anos 1980 seu nome começou a ser introduzido na história do cinema.

    Por que temos um grande filme de ficção sobre a vida de Georges Méliès, outro grande pioneiro francês, e pouco -ou quase nada- se fala a respeito de Alice Guy-Blaché?

    Por que as histórias que nos inspiram são tão pouco contadas e interpretadas por mulheres?

    Em tempos em que a igualdade de gênero está em evidência, é louvável que o ano de 2016 tenha batido o recorde de filmes com protagonistas femininas em Hollywood.

    Dados do Centro para o Estudo de Mulheres na Televisão e Cinema, da Universidade de San Diego (Estados Unidos), mostram que no ano passado 29% dos cem filmes com maiores bilheterias foram protagonizados por mulheres -em 2015, eram 22%.

    Já por aqui, de acordo com a Ancine, dos 143 longas brasileiros lançados no país em 2016, 29 foram dirigidos por mulheres. Dois deles, também com protagonistas femininas, figuram no top 20 de maiores bilheterias nacionais do ano passado: "É Fada!" (direção de Cris D'Amato, com a youtuber Kéfera) e "Um Namorado para minha Mulher" (da diretora Julia Rezende, com Ingrid Guimarães).

    Quando se pesquisa a história do cinema, porém, descobre-se que as mulheres já tiveram um papel bem mais efetivo no comando das produções. No início do século 20, ou seja, no início da indústria do cinema, a metade dos roteiros filmados nos Estados Unidos foi escrita por mulheres. Hoje tal índice fica pouco acima dos 10%.

    Diagnosticar qual lugar tem sido atribuído à mulher é uma forma de jogar luz sobre a questão em um setor da arte tradicionalmente dominado pelos homens.

    BARBARA STURM é cofundadora do festival Cineramabc e diretora de conteúdo na distribuidora Elo Company

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