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    EDITORIAL

    Um dígito

    31/07/2017 02h00

    Ueslei Marcelino/Reuters
    O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, conversa com o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, durante conferência em Brasília
    O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, conversa com o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, durante conferência em Brasília

    Com o corte de um ponto percentual decidido pelo Comitê de Política Monetária, a taxa de juros do Banco Central caiu a 9,25% ao ano, o menor nível em quatro anos.

    O BC indicou que, mantidas as atuais condições, a perspectiva é de redução similar na próxima reunião, em agosto. Trata-se de mudança bem-vinda na comunicação da política monetária, que apontava até então maior cautela em razão das incertezas decorrentes do agravamento da crise política.

    Avaliava-se que atrasos na aprovação das reformas, sobretudo a da Previdência, poderiam dificultar a queda da taxa Selic. Com o impacto negativo para as contas públicas, credores exigiriam juros mais altos para financiar o governo.

    Por ora, tais riscos não se concretizaram. Não houve fuga de capitais nem pânico nos mercados. Depois do choque inicial com as gravações da JBS, as variáveis financeiras, como o preço do dólar, estabilizaram-se, na premissa de que a condução da economia será mantida mesmo em caso de queda de Michel Temer (PMDB).

    De outro lado, a conjuntura de estagnação e diminuta pressão de preços continua a exigir providências mais decididas, o que agora domina a atenção do BC.

    A tendência de queda da inflação se torna cada vez mais difundida, inclusive em segmentos mais resistentes, como os serviços.

    Não fosse o aumento de combustíveis anunciado na semana passada, que elevará o IPCA em 0,5 ponto percentual nas próximas semanas, seria possível fechar o ano com variação abaixo de 3%, o piso do regime de metas.

    Para 2018, o BC prevê uma inflação de 4,3%, abaixo da meta de 4,5%. Tal patamar indica que o banco já se sente confortável em rebaixar os juros para menos de 8%.

    Embora alguns indícios já apontem para a estabilização da economia, uma retomada vigorosa ainda parece distante -dependerá de afrouxamento mais decisivo no torniquete financeiro que pesa sobre os cidadãos e as empresas.

    Nesse campo, há algum progresso, todavia pequeno, como a menor inadimplência e, de forma incipiente, juros bancários mais baixos para pessoas físicas e jurídicas.

    No mês passado, a taxa média atingiu 36,4% e 18,7% ao ano em cada segmento, respectivamente. Apesar de menores que no início do ano, são níveis extorsivos.

    Ao juro básico de um dígito é preciso somar avanços institucionais que diminuam o custo do crédito, outra tarefa ainda inconclusa do Banco Central.

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