• Opinião

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    editorial

    Risco acima de zero

    10/08/2017 02h00

    Wong Maye-E, Pablo Martinez Monsivais/Associated Press
    FILE - This combination of photos show North Korean leader Kim Jong Un on April 15, 2017, in Pyongyang, North Korea, left, and U.S. President Donald Trump in Washington on April 29, 2017. A dictator stands on the verge of possessing nuclear missiles that threaten U.S. shores. A worried world ponders airstrikes and sanctions. (AP Photo/Wong Maye-E, Pablo Martinez Monsivais, Files) ORG XMIT: SEL101
    O ditador norte-coreano, Kim Jong-Un, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

    O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou valer-se de "fogo e fúria contra a Coreia do Norte. O regime de Kim Jong-un, por sua vez, respondeu que considera atacar Guam, território americano no Pacífico com expressiva presença de militares, com "fogo envolvente".

    Apesar da retórica inflamada, pode-se presumir que nenhum dos lados deseje o conflito.

    Embora com perspectivas mais óbvias de vitória numa eventual guerra, o líder republicano tem ciência de que a mera possibilidade de uso de armas nucleares teria consequências desastrosas para seu país e o mundo.

    Da mesma maneira, o ditador norte-coreano por certo não desconhece que um confronto com os EUA equivale a suicídio.

    Ainda assim, é palpável o risco de que discursos e decisões mal calculadas levem a situações que não comportem recuo, com resultados trágicos não buscados por nenhuma das partes.

    Essa lógica de armadilhas autoinfligidas deu ensejo à Primeira Guerra Mundial, em 1914, e quase ocasionou um conflito armado, em 1962, entre EUA e União Soviética.

    Parece claro que Pyongyang domina a tecnologia da bomba e de mísseis de médio alcance —muito provavelmente, os de longo também. São fortes os indícios de que já teria sanado o ponto que faltava para a plena capacidade nuclear: o desenvolvimento de ogivas pequenas e leves o bastante para ser transportadas pelos mísseis.

    Não sobram aos EUA, portanto, maiores opções para impedir a Coreia do Norte de se tornar um Estado nuclear. Alternativas militares, como tentar destruir as instalações atômicas ou derrubar o regime, são ao mesmo tempo arriscadas e de altíssimo custo político.

    Kim Jong-un teria tempo, provavelmente, para reagir a um ataque americano, disparando contra a vizinha Coreia do Sul.

    A atitude mais sábia nas atuais circunstâncias será tentar estabelecer algum "modus vivendi" com os norte-coreanos. Trump deve dar sinais claros e críveis de que os EUA não serão os primeiros a atacar, mas não tolerarão nenhuma investida contra seu território ou contra algum de seus aliados.

    Para evitar uma corrida nuclear na região, também é importante assegurar a proteção da Coreia do Sul e do Japão, assim como tentar convencer a China, único aliado de Kim Jong-un, a moderar os arroubos do ditador.

    Resta o alento de que, embora nada confiável, o regime norte-coreano até hoje nunca deixou de agir racionalmente no jogo nuclear.

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