• Opinião

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    JORGE ABRAHÃO

    Paulistanos, uni-vos: três horas no trânsito é demais!

    22/09/2017 02h00

    Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress
    SÃO PAULO, SP, 20.04.2017: TRÃNSITO-SP - Trânsito intenso na Avenida 23 de Maio na altura do Viaduto Tutóia, nesta quinta-feira (20), véspera de Feriado. (Foto: Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
    Trânsito intenso na avenida 23 de Maio, na altura do viaduto Tutoia, na zona sul de São Paulo

    Há exatos dez anos, em 22 de setembro de 2007, no Dia Mundial Sem Carro, a Rede Nossa São Paulo realizava a primeira grande iniciativa de mobilização para trazer à tona questões que afligiam o paulistano no exercício de viver a cidade.

    Naquela época, a gestão municipal resistia a propostas básicas. A ideia de uma ciclovia ligando os parques, por exemplo, era recebida como uma afronta aos carros -e a estes eram dados todos os investimentos e atenções.

    Hoje, o cenário da mobilidade em São Paulo é diferente, e o protagonismo dos automóveis perdeu força no imaginário.

    A cidade se adaptou, absorveu as mudanças, e os quase 400 km de ciclovias e mais de 500 km de faixas exclusivas de ônibus já se tornaram insuficientes. O que comprova a demanda reprimida havia décadas para tendências como estas.

    Entretanto ainda há muito o que fazer. Segundo a 11ª edição da pesquisa de mobilidade urbana da Rede Nossa São Paulo -neste ano em parceria com o projeto Cidade dos Sonhos-, encomendada ao Ibope, o paulistano ainda perde cerca de três horas no trânsito diariamente, ocupando em torno de 20% do tempo que ficamos acordados.

    O levantamento também revela que o nível de satisfação com aspectos da locomoção em São Paulo piorou em todos os itens, contrariando uma tendência de melhora que vinha sendo registrada desde 2008.

    O medo é uma das marcas da pesquisa: dos pedestres, ao evidenciar o desrespeito dos motoristas às faixas de travessia; dos ciclistas, pelo desrespeito às ciclovias; e dos usuários de ônibus, em relação à segurança de furtos e roubos.

    Pela primeira vez abordamos a questão da segurança em relação ao assédio sexual, que ficou com a nota mais baixa (2,6) em 14 itens pesquisados.

    A pesquisa revela um paulistano mais crítico e exigente justamente porque é crescente também a disposição de ocupar a cidade, valorizar espaços públicos e priorizar o transporte público: 80% deixariam de usar o carro se tivessem "melhor alternativa de transporte", e aumentaram de 41% para 52% os que consideram "melhorar a qualidade do transporte por ônibus" a principal medida para a mobilidade.

    Também é gritante o fato de que 87% são favoráveis à implementação ou ampliação de corredores e faixas exclusivas de ônibus, 74% apoiam a abertura eventual de ruas para o lazer de pedestres e ciclistas, e 71% são a favor da ampliação e construção de ciclovias.

    A pesquisa serve para evidenciar problemas e pode direcionar políticas públicas pelos principais responsáveis: a Prefeitura e a Câmara de Vereadores. Para todas as questões há solução e bons exemplos. Portanto, o problema não é técnico, mas político: de viabilizar o acesso à cidade para toda a população.

    Por tudo isso, é inadiável ao poder público dar sequência às ações iniciadas nos últimos anos e avançar em pontos indispensáveis, como a prioridade ao transporte público de qualidade e acessível -52% dos paulistanos deixam de visitar familiares, 42% não fazem consultas médicas e 28% deixam de ir à escola ou universidade por causa do preço da tarifa.

    Só assim estaremos, de fato, garantindo a todos o inalienável direito de ir e vir na cidade.

    JORGE ABRAHÃO, 59, é coordenador geral da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis. É membro do Conselho do Global Compact da ONU, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, da Comissão Nacional pelos ODS e do Conselho do Instituto Ethos

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