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    editorial

    Planos para a Europa

    02/10/2017 02h00

    O presidente Emmanuel Macron, da França, pretendia apresentar sua visão para a integração europeia depois de assegurada uma consagradora vitória eleitoral da chanceler alemã, Angela Merkel.

    Em vez de um resultado triunfante, porém, a recondução de Merkel para um quarto mandato foi tisnada pela ascensão do partido de direita radical AfD, que conquistou 12,6% dos votos e se tornou a terceira maior força no Parlamento.

    Com o enfraquecimento dos socialistas, sócios menores da coalizão que governou o país nos últimos anos, resta à CDU, legenda democrata-cristã da chanceler, tentar a formação de uma aliança inédita com liberais e verdes, distantes entre si ideologicamente.

    A margem de manobra de Merkel para avançar numa parceria com Macron se estreitou, ademais, em razão da posição contrária dos liberais e até de algumas alas de seu partido ao aprofundamento da integração continental.

    Por outro lado, os dois líderes sabem que há uma oportunidade a ser aproveitada para ampliar a cooperação. Depois de quase uma década de crise, a economia na zona do euro passa por um bom momento, com crescimento próximo a 2,5% e queda do desemprego.

    Num passo que demonstra intenção de maior protagonismo, Macron expôs seu plano ambicioso para a União Europeia em longo discurso na Universidade Sorbonne, sem aguardar a configuração política que emergirá das complicadas conversas partidárias na Alemanha —que devem se prolongar por várias semanas.

    Na economia, reafirmou a posição francesa favorável à criação de um orçamento comum, sob direção de um ministro de Finanças com jurisdição sobre toda a zona do euro. Tal passo é tido como essencial para fortalecer os pilares da moeda única a longo prazo.

    O presidente francês adota posição cautelosa, porém, ao dizer que não pretende partilhar recursos com governos perdulários, a grande preocupação dos alemães. A estratégia seria criar condições para minorar o sofrimento social em momentos de crise e desemprego e, com isso, enfraquecer plataformas populistas.

    Merkel, de sua parte, mostrou-se receptiva às propostas, pois entende que a janela de oportunidade para consolidar seu legado pró-europeu não permanecerá aberta por muito mais tempo.

    Se o populismo foi derrotado na Holanda e na França, o avanço da AfD na Alemanha e o crescente nacionalismo verificado em países do Leste Europeu são lembretes de que o vírus permanece ativo.

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