• Opinião

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    ROMÁRIO

    A cartolagem nas mãos da Justiça

    27/10/2017 02h00

    Ian Cheibub/Folhapress
    RIO DSE JANEIRO , RJ , 05.10.2017 , BRASIL , A Polícia Federal prende Presidente e ex-diretor do Comitê Olímpico, Carlos Arthur Nuzman e Leonardo Gryner.Crédito Ian Cheibub / Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O ex-presidente do COB Carlos Arthur Nuzman chega escoltado à sede da PF no Rio

    Fora da área de jogos, nosso esporte passa por um triste momento. Quando perdemos uma grande competição, como a Copa do Mundo, é no campo da disputa que isso ocorre. Perder é do jogo. Mas, quando os principais dirigentes perdem a confiança e a dignidade, a ponto de serem presos e afastados de organismos internacionais, a situação se torna vergonhosa para o país.

    Lamentavelmente, vivemos esta realidade. No lugar dos anunciados "legados" olímpicos, o esporte convive com os "(de)legados" –perdão pelo trocadilho, mas isso é real.

    Há três anos, a Confederação de Vôlei apresentou o primeiro escândalo. As conquistas em quadra dos nossos atletas escondiam falcatruas, como revelou a imprensa. Recentemente, Coaracy Nunes, então presidente da Confederação de Desportos Aquáticos, foi preso, também acusado de corrupção.

    Agora, é Carlos Arthur Nuzman. Preso, demitiu-se da presidência do Comitê Olímpico do Brasil. Envolvido em um suspeito esquema de compra de votos para que o Rio se tornasse sede olímpica, também foi suspenso pelo Comitê Olímpico Internacional. São derrotas tristes para a história do nosso esporte, algo como aquele 7 a 1...

    Em 2011, João Havelange renunciou ao cargo de honra que ocupava no COI, para evitar expulsão. Ele foi acusado de ter recebido propinas da empresa de marketing ISL, para facilitar a venda de direitos de TV para a Fifa.

    Agora, uma coincidência une a família olímpica ao futebol: tanto Nuzman quanto José Maria Marin, ex-presidente da CBF, que será julgado em novembro, nos EUA, foram presos por envolvimento em esquemas internacionais.

    Por aqui, sobram investigações sobre a corrupção no esporte. O relatório alternativo que apresentei na CPI do Futebol tem vários indícios nesse sentido. A propósito, cópia desse relatório está no Supremo Tribunal Federal, aguardando parecer do ministro Celso de Mello.

    No balanço geral, nós nos preparamos muito mal para os megaeventos esportivos. A maioria das instalações olímpicas está abandonada, assim como os "elefantes brancos" que herdamos da Copa.

    O estádio Mané Garrincha, em Brasília, construído sob farta corrupção, está sem receber jogos há mais de seis meses.

    O segundo fato que assusta é a queda de 50% no orçamento do Ministério do Esporte, para 2018. Que planejamento de governo é este, para um país que está a três anos dos Jogos Olímpicos de Tóquio?

    Esta realidade sugere que o nosso esporte, financiado pela verba pública, precisa de urgente revisão para remodelar, inclusive, a sua já desgastada gestão.

    É preciso decidir se o Estado continuará investindo no alto rendimento ou se dará atenção ao artigo 217 da Constituição, que determina a destinação de recursos públicos ao setor "prioritariamente para o esporte escolar".

    E vamos torcer, antes, por uma eficiente ação da Justiça para que retire de campo aqueles que assaltaram os cofres públicos, a pretexto de aqui promover megaeventos fantásticos, mas que já nos enchem de vergonha.

    Tenho orgulho do esporte que pratiquei e de ter ajudado a conquistar o tetracampeonato mundial de futebol para o meu país.

    Mas, neste momento, observo com tristeza a realidade da falência na gestão do alto rendimento, que serve, também, para o enriquecimento ilícito de cartolas, entre eles Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero.

    Afinal, para que e a quem serve o nosso esporte?

    Continuaremos a aceitar a regra suja do jogo, que envolve muito dinheiro público e explora o desempenho dos nossos atletas?

    ROMÁRIO é senador (Podemos-RJ)

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