Ju Peng/Xinhua | ||
Congresso do Partido Comunista chinês; ao centro, o presidente da China, Xi Jinping |
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Opinião
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O poderoso Xi
27/10/2017 02h00
Pouco será lembrado no futuro sobre o que se discutiu no 19º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, encerrado na terça-feira (24). O objetivo desta mais recente reunião quinquenal mostrou-se um só: revelar ao mundo que o líder chinês, Xi Jinping, foi alçado a um novo patamar de poder.
Em seu discurso de quase três horas e meia, Xi projetou seu país como "potência global líder" até 2050. Por 36 vezes, utilizou o termo "nova era" para definir o desenvolvimento chinês.
Tal expressão, aliás, passou a fazer parte da Constituição do PC, associada ao "pensamento de Xi Jinping sobre socialismo".
Embora a inclusão tenha apenas efeito simbólico, só outros dois dirigentes tiveram o mesmo reconhecimento: os históricos Mao Tsé-Tung (1893-1976), líder da Revolução de 1949, e seu sucessor, Deng Xiaoping (1904-1997), que iniciou as reformas pró-mercado.
No plano doméstico, Xi granjeou respeito —e temor— dentro da cúpula do PC por promover um amplo programa anticorrupção. Segundo o governo, 1,4 milhão de filiados foram punidos, e 54 mil respondem a processos na Justiça. Para críticos, a campanha tem servido para enquadrar rivais internos que pudessem desafiá-lo.
A ascensão se explica também pela inaptidão do presidente dos EUA, Donald Trump, para o papel de líder global. Enquanto este se encasula no discurso nacionalista, Xi se apresentou à elite econômica em Davos como defensor do livre comércio, da paz internacional e das políticas de combate às mudanças climáticas.
Com Washington distante do palco mundial, não há outro mandatário, por ora, capaz de fazer frente à influência de Xi —possíveis contrapesos, como o presidente russo, Vladimir Putin, e a chanceler alemã, Angela Merkel, se mostram simpáticos ao dirigente chinês, como forma de isolar Trump.
Nos próximos cinco anos de seu segundo mandato, podem-se esperar uma crescente presença nas instâncias multilaterais e mais investimentos em infraestrutura pelo mundo. Empréstimos chineses já criaram aguda dependência em vários países latinos e africanos.
Ainda que não se fale abertamente, há indícios de que Xi possa se manter no poder depois de 2022. Para tanto, faz-se necessária uma emenda à Constituição, algo quase protocolar para uma ditadura de partido único.
Ressalte-se que o regime só tem aumentado a repressão contra dissidentes, e a perspectiva de abertura política é mínima, se tanto. Uma vez traçado o caminho de Xi como superlíder, será difícil lhe cobrar mudanças depois –tanto dentro quanto fora da China.
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