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    editorial

    Audácia saudita

    11/11/2017 02h00

    Hassan Ammar - 14.mai.2012/Associated Press
    FILE - In this May 14, 2012 file photo, King Salman, left, speaks with his son, now Crown Prince Mohammed Bin Salman, (MBS), as they wait for Gulf Arab leaders ahead of the opening of Gulf Cooperation Council, in Riyadh, Saudi Arabia. The surprise dismissal and arrest of dozens of ministers, royals, officials and senior military officers by MBS late Saturday, Nov. 4, 2017, is unprecedented in the secretive, 85-year-old kingdom. But so is the by-now virtually certain rise to the throne of a 30-something royal who, in another first, is succeeding his father. (AP Photo/Hassan Ammar, File) ORG XMIT: SAUTH102
    O rei Salman (esq), da Arábia Saudita, conversa com seu herdeiro, o príncipe Mohammed Bin Salman

    Habituado a uma miríade de conflitos das mais diversas naturezas, o Oriente Médio assiste a uma antiga disputa de poder entre duas forças regionais ganhar proporções preocupantes.

    De um lado, o Irã, adepto da vertente xiita do islamismo e governado por uma teocracia que há décadas semeia instabilidade em seu entorno; do outro, a Arábia Saudita, berço do islã e da majoritária corrente sunita, cuja monarquia absolutista se mostra cada vez mais obstinada a se contrapor à influência do rival.

    A nova peça no tabuleiro se chama Muhammad bin Salman, 32, conhecido como MBS. Ungido em junho como príncipe herdeiro do rei saudita, Salman, 81, ele ascendeu com um discurso radical contra Teerã, alguns tons acima do que era comum ouvir da família real.

    Em sua escalada retórica, MBS tratou como "ato de guerra" do Irã um míssil supostamente vindo do vizinho Iêmen, abatido no ar no último fim de semana.

    Explica-se: os inimigos históricos travam desde 2015 uma guerra por procuração em solo iemenita. O regime persa financia uma milícia xiita, que controla parte do país e tenta derrubar o governo sustentado pela Arábia Saudita.

    Ainda que não haja evidência suficiente do envolvimento iraniano no episódio, está claro que o príncipe buscou inflamar os ânimos.

    Tal rivalidade permeia hoje a maioria dos focos de turbulência da região. Na guerra civil síria, Teerã está do lado do ditador Bashar al-Assad, e Riad apoia os rebeldes.

    Já o recente boicote diplomático ao Qatar se deu por articulação saudita com seus aliados, em resposta ao flerte do pequeno emirado com o outro lado do golfo Pérsico.

    Comporta certa ironia observar que a Arábia Saudita parece disposta a assumir o perfil temerário que tanto criticara em relação à ingerência do Irã em seus vizinhos.

    A inflexão beligerante, aliás, conta com o beneplácito dos Estados Unidos, o maior aliado dos sauditas. Donald Trump não esconde a aversão a Teerã, expressa no desejo de romper o acordo nuclear costurado por Barack Obama.

    Tal conduta implica riscos. Um deles é aumentar as chances de uma agressão direta entre sauditas e iranianos, algo que repercutiria em várias nações próximas.

    Outro temor reside na própria estabilidade do reino. Dotado de amplos poderes, MBS levou 11 príncipes a serem detidos sob acusação de corrupção. Não se descarta, por exemplo, a hipótese de um movimento para apear o herdeiro quando Salman morrer —um cenário, decerto, indesejado à Casa Branca.

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