• Opinião

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    ANNA VERONICA MAUTNER

    Tons do verde

    13/11/2017 02h00

    Agência Pará
    Esse sera o terceiro processo licitatorio a ser promovido pelo Governo do Para, que ja disponibilizou 150,9 mil hectares de florestas no conjunto de glebas Mamuru-Arapiuns e 393,1 mil hectares na Floresta Estadual do Paru Foto: Agencia Para DATA: 25.05.2016 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Trecho da floresta amazônica, no Pará

    É primavera!

    Andando de carro por uma estrada fora da cidade, fixe o olhar num pedaço de paisagem:

    Quantos tons de verde você vê, de onde você está, até o horizonte? Quantos tons de verde uma paisagem tem?

    Quantos tons de verde o mundo tem? Quantos tons um verde tem?

    A variedade de verdes que o mundo contém é fantástica, incomensurável. E não é preciso pegar um modelo tão vasto, como uma paisagem vista de um carro em movimento —qualquer jardim ou parque possui inúmeras nuances de verde, mesmo quando caminhamos apenas.

    Os artistas procuram reproduzir as nuances da natureza, enquanto os homens comuns procuram, com frequência, eliminá-las.

    Novembro —o verão está aí. A luz enriquece a paisagem, e a natureza nos envolve em suas cores.

    Quando passamos por um muro, criado pelo homem, podemos ver muitos metros sem nuances: um cinza só, um bege só.

    Muitas vezes esta é a obra da qual o homem se orgulha: uma parede, um muro, um paredão sem nuance algum —que só o homem faz.

    A humanidade é assim —deseja poder intervir. Tornar plácido o que é tumultuado e tornar tumultuado o que é plácido. Enquanto a natureza enriquece o mundo com as nuances todas que admiramos, a obra do homem muitas vezes consiste em eliminá-las. Um paredão sem manchas, "liso", a natureza não faz —só o homem faz.

    Falando da riqueza das nuances, damos de cara com o valor inestimável da ausência de tons: qual a pedra preciosa mais valiosa? É a que tem a cor pura, sem nenhuma variedade de tons —uma esmeralda só verde, uma água marinha só azul ou um brilhante só transparente.

    A natureza cria a multiplicidade cuja harmonia é o que vamos chamar de belo —se é que ele existe.

    O homem se esforça em recriar a natureza, tentando chegar à mesma emoção e sensação de equilíbrio, na acertada combinação de diferenças. Sonhos de toda a humanidade, em todos os tempos —equilíbrio e harmonia.

    Ao mesmo tempo em que sonhamos com o monocromático, almejamos harmonia entre diferentes tons. Quando encontramos isso na natureza, com os verdes que nos rodeiam, queremos intervir e mudar —ampliar as variedades e as diferenças. Quando nos sentimos capazes de mudar, nos sentimos fortes... e força é o que imaginamos precisar para manter a vida.

    Ter força de intervir é ter força de continuar vivendo.

    A natureza é assim... colore e descolore, reforça e simplifica. Uma eterna e ininterrupta demonstração de força e poder.

    Voltando ao verde —quem sabe as nuances não são, tão somente, lutas pela sobrevivência... O verde é tão pouco cantado que nem parece ser a fonte perene da vida! Até estou me estranhando ao me fixar no verde —assim de repente!

    É o verde que nos alimenta.

    É a natureza que se imiscui com o corpo humano e animal, dando-lhe VIDA!

    ANNA VERONICA MAUTNER é psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ágora)

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