• Opinião

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    RENATO FEDER

    Escolas públicas de qualidade internacional

    15/11/2017 02h00 - Atualizado às 20h38

    Edson Silva/Folhapress
    TAQUARITINGA, SP, BRASIL, 21-07- 2014: Trabalhadores rurais carregam caminhão com a laranja em fazenda em Taquaritinga SP. O estoque de suco de laranja nas indústrias caiu em relação à safra passada, segundo dados da CitrusBR.( Foto: (Edson Silva /Folhapress ) ***REGIONAIS***EXCLUSIVO FOLHA***
    Trabalhadores carregam caminhão de laranja em Taquaritinga; cidade abriga boas escolas estaduais, apesar de não estar em região rica ou industrial

    Em Taquaritinga e demais cidades no entorno dessa região do interior de São Paulo, como Itápolis, Borborema e Dobrada, as escolas públicas estaduais estão entre as melhores de todo o Brasil. A maioria possui notas do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) acima de 6 —o que, segundo o Ministério da Educação, equivale a uma nota do Pisa (teste internacional de educação) acima da média dos países desenvolvidos.

    Isso tudo numa região paulista que não é rica e nem se destaca como polo industrial ou turístico —pelo contrário, boa parte dos pais dos alunos trabalha na lavoura, como cortadores de cana-de-açúcar. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região encontra-se abaixo da média brasileira, segundo os dados oficiais do IBGE.

    Editoria de arte/Folhapress

    Para entender essa questão, visitei oito escolas estaduais e conversei com alunos, professores e dezenas de líderes escolares. A resposta está na motivação dos profissionais e nas práticas pedagógicas do dedicado time educacional.

    Em primeiro lugar, o foco de todos está no aprendizado do aluno. As provas são levadas muito a sério, principalmente as avaliações oficiais do Estado, que ocorrem bimestralmente. Como elas medem o processo de aprendizagem, após sua realização, os resultados são cuidadosamente analisados pelo professores, que verificam o que a turma aprendeu e o que não conseguiu entender.

    Os professores adotam a estratégia de retomar as habilidades que não foram consolidadas, tentando ensinar a matéria de outras formas e verificar se conseguem ser mais efetivos. As boas escolas têm verdadeiros mapas com as habilidades e conhecimentos do que cada turma e cada aluno aprendeu. Assim, ninguém fica para trás.

    A segunda estratégia é acompanhar com lupa a frequência dos alunos na escola. Se as faltas passam de um ou dois dias, a família é rapidamente acionada. Em vários casos, é necessário que a equipe escolar reforce com a família a importância da criança na escola. Se as faltas continuam, o aluno recebe tarefas adicionais para recuperar o conteúdo perdido. Isso ajuda no aprendizado e serve de estímulo para a ausência não se repetir.

    A terceira prática, comum a todas as escolas com bom resultado, é o coordenador da escola assistir aulas. Todos os dias ficam em alguma classe e conseguem oferecer boas devolutivas aos professores. É essencial estabelecer uma parceria forte e de respeito mútuo entre professor e coordenador.

    Após essa aliança, o feedback colabora muito para uma aula interessante e engajada. Além disso, a proximidade com o coordenador aumenta a valorização da boa aula do professor e sua motivação. Como benefício adicional, também caem seu estresse e o absenteísmo.

    A quarta prática são os simulados para crianças mais velhas. As escolas com as melhores notas aplicam provas com questões do Exame Nacional do Ensino Médio e de vestibulares o tempo todo aos alunos. Isso é um exercício positivo, pois ajuda o adolescente a compreender e exercitar a matéria, o faz pensar e se sentir mais confiante nas provas futuras, e com mais chances de entrar na faculdade.

    Essas práticas deixam a escola agradável e têm impacto positivo especialmente na confiança e motivação das crianças.

    Quando perguntei o que sentiam sobre a tão temida matemática, os alunos levantaram as mãos, quase pulando da cadeira, e gritaram: "Eu adoro matemática."

    Estava aí estampado o segredo de Taquaritinga: práticas simples e bem executadas que aumentam o desempenho acadêmico e levam o aluno a ter alegria em ir à escola.

    RENATO FEDER é professor, com mestrado em Economia pela USP, e assessor técnico no gabinete da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

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