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    editorial

    Despautério

    15/11/2017 02h00

    Rahel Patrasso/Xinhua
    (171113) -- SAO PAULO, noviembre 13, 2017 (Xinhua) -- Manifestantes participan en una protesta en defensa de los derechos de las mujeres y en contra de la ley "PEC 181", en Sao Paulo, Brasil, el 13 de noviembre de 2017. De acuerdo con información de la prensa local, mujeres protestaron el lunes en Sao Paulo en defensa de los derechos de las mujeres y en rechazo a la ley "PEC 181", que según los organizadores tiene como objetivo criminalizar el aborto bajo cualquier circunstancia, a diferencia de la legislación actual que permite la práctica cuando el embarazo es resultado de una violación. (Xinhua/Rahel Patrasso) (rp) (da) (rtg)
    Mulheres protestam em São Paulo contra projeto de lei que pode proibir o aborto em caso de estupro

    Uma preocupação permanente da bancada religiosa do Congresso Nacional, compreensivelmente, é a legislação referente ao aborto.

    Em sua mais alentada iniciativa contra a prática, apresentou-se em 2007 projeto de lei que institui o Estatuto do Nascituro.

    Até hoje em etapa inicial de análise na Câmara dos Deputados, o texto reúne dispositivos questionáveis como a proteção integral a embriões, inclusive aqueles congelados em clínicas de fertilidade.

    Propostas do gênero —assim como as destinadas a ampliar as possibilidades de interrupção legal da gravidez— despertam previsível e intensa polêmica. No caso mais recente, parlamentares ligados a igrejas evangélicas fizeram avançar uma tentativa de restrição mais radical, com mudança das normas expressas na Constituição.

    Em comissão especial da Câmara, aprovou-se, por 18 votos a 1, um dispositivo decretando que a vida começa na concepção.

    Ou, dito de outra maneira, que as três situações em que o aborto é hoje autorizado no país —gravidez de feto anencefálico, resultante de estupro ou que represente perigo de vida para a mãe— ficam equiparadas ao homicídio.

    Por legítimas que sejam as bandeiras pró-vida, a propositura representa um despautério evidente, de aplicação inconcebível e em flagrante desacordo com as preferências majoritárias da sociedade.

    Se é verdade que a maior parte da população não apoia a ampliação do direito ao aborto, tampouco se pretende restringi-lo. Pesquisas do Datafolha apontam que cerca de dois terços dos brasileiros defendem a permanência da legislação tal como se encontra hoje.

    Dadas as consequências sociais das gravidezes indesejadas e dos riscos representados por procedimentos clandestinos, entre outros motivos, esta Folha concorda que seja descriminalizada a interrupção nos estágios iniciais. Em se tratando de questão tão divisiva, um plebiscito seria aconselhável.

    Felizmente, mostra-se remoto o risco de que prospere a proposta de emenda constitucional que levaria ao encarceramento de centenas de milhares de brasileiras.

    Para tanto, seriam necessários os votos de 308 dos 513 deputados e 49 dos 81 senadores. A despeito do placar elástico obtido na comissão —dominada por parlamentares ligados a causas religiosas—, o texto não reúne condições de romper tais barreiras numéricas.

    Provavelmente nem seus autores desejem de fato a implantação de norma tão draconiana. O momento, afinal, é propício para agradar aos respectivos nichos eleitorais.

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