• Opinião

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    Editorial

    Capítulo final

    20/11/2017 02h00

    Ronaldo Schemidt - 10.ago.2017/AFP
    TOPSHOT - Venezuelan President Nicolas Maduro addresses the all-powerful pro-Maduro assembly which has been placed over the National Assembly and tasked with rewriting the constitution, in Caracas on August 10, 2017. Recent demonstrations in Venezuela have stemmed from anger over the installation of the all-powerful Constituent Assembly that many see as a power grab by the unpopular President Maduro. The dire economic situation also has stirred deep bitterness as people struggle with skyrocketing inflation and shortages of food and medicine. / AFP PHOTO / RONALDO SCHEMIDT
    O presidente venezuelano Nicolás Maduro

    A interrupção do pagamento da dívida venezuelana, levado a cabo nos últimos dias, não surpreende. No roteiro tristemente repetitivo do populismo latino-americano, a incapacidade de honrar compromissos quase sempre surge no epílogo dos desmandos que vão minando a economia e as instituições.

    Após descumprir um pagamento de US$ 200 milhões em juros de sua dívida externa, estimada em US$ 150 bilhões, o país foi declarado em calote parcial pelas três principais agências internacionais de classificação de risco.

    A crise descomunal –que fez a renda per capita retroceder 40% desde 2013, no processo de empobrecimento mais explosivo já observado na América Latina– entra agora em nova fase.

    A inadimplência dificulta o acesso do regime de Nicolás Maduro a divisas estrangeiras, fundamentais para financiar importações de produtos essenciais.

    O caos há muito está instalado. A inflação se aproxima de 1.000% anuais e escasseiam todos os tipos de mantimentos. As reservas cambiais não passam de apenas US$ 9,6 bilhões, tendo caído cerca de 75% em cinco anos.

    Com a suspensão do pagamento da dívida, pode-se até conseguir um alívio de curto prazo, uma vez que o governo disporá dos recursos para outros fins. Países mais alinhados, como Rússia e China, além disso, podem proporcionar alguma sobrevida ao chavismo.

    Entretanto o isolamento cresce e as opções da ditadura vão se estreitando. Em especial, com a imposição de sanções pelos EUA, que proibiram a compra por instituições americanas de novos papéis da Venezuela e da PDVSA, a empresa oficial de petróleo.

    Também será cada vez mais difícil a participação no comércio exterior, dado que a Venezuela vem deixando de pagar as linhas de financiamento de importações –justamente as que propiciam acesso a mercadorias essenciais.

    O Brasil já deixou de receber US$ 262 milhões no âmbito do Convênio de Créditos Recíprocos, mecanismo de liquidação de obrigações em moeda estrangeira entre os dois países, muitas delas garantidas pelo Tesouro Nacional.

    Não se sabe exatamente, aliás, o quanto o Brasil está exposto ao risco venezuelano. Estima-se que o impacto possa se aproximar dos US$ 5 bilhões, resultantes da afinidade entre os governos petistas e chavistas desde a década passada.

    Já tendo gerado colapso econômico, solapamento da democracia e escalada do crime, o regime de Caracas agoniza num capítulo final infelizmente já muito extenso.

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