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    editorial

    Além da mala

    22/11/2017 02h00

    Marcos Correa/Xinhua
    (171120) -- BRASILIA, noviembre 20, 2017 (Xinhua) -- Imagen cedida por la Presidencia de Brasil, del presidente brasileño, Michel Temer (d), saludando al nuevo director general de la Policía Federal (PF) brasileña, Fernando Segovia (i), durante su ceremonia de asunción en el Ministerio de Justicia en Brasilia, Brasil, el 20 de noviembre de 2017. Fernando Segovia asumió el lunes como nuevo director general de la Policía Federal (PF) de Brasil, y reafirmó que el combate a la corrupción seguirá siendo prioritario en el trabajo de la institución. La ceremonia de asunción, realizada en el Ministerio de Justicia en Brasilia, contó con la presencia del presidente brasileño, Michel Temer, y del ministro de la cartera, Torquato Jardim, responsables de la designación del nuevo director de la PF. (Xinhua/Marcos Correa/Presidencia de Brasil) (ma) (ah)
    O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, cumprimenta o presidente Michel Temer

    Mesmo sem partir para interpretações mais sombrias, não se pode ignorar que foram extremamente infelizes as declarações do novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, a respeito das investigações envolvendo o presidente Michel Temer (PMDB).

    Ao fazer tal juízo, esta Folha não pretende engrossar o coro dos que veem em qualquer crítica a procedimentos da Operação Lava Jato uma manifestação de tibieza, quando não de conivência com desmandos de poderosos.

    A formidável ofensiva de combate à corrupção se faz acompanhar, sim, de ocasionais abusos de autoridade, apurações defeituosas e conclusões açodadas —e o acordo de delação firmado com o comando da JBS, base para as denúncias apresentadas contra Temer, mostrou-se repleto de vícios.

    Entretanto Segovia atropelou a prudência e o rigor esperados de um ocupante de cargo tão decisivo ao desmerecer uma evidência central do inquérito referente ao presidente que o nomeou.

    "Uma única mala", disse, após assumir a direção da PF, "talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não a corrupção".

    Recorde-se que a mala em questão continha R$ 500 mil em dinheiro vivo; que foi entregue a um então auxiliar de Temer por um emissário da JBS em 28 de abril; que em 7 de março o mandatário indicara o mesmo ex-assessor, Rodrigo Rocha Loures, para tratar de interesses da empresa no governo.

    Esses fatos, todos gravados em áudio ou vídeo, não deixam dúvida de que um ilícito grave foi cometido. Se inexiste comprovação cabal de que Loures agia com o conhecimento ou em benefício de seu chefe (embora tenha sido esse o entendimento da própria PF), tampouco se ofereceram explicações satisfatórias para o episódio.

    Havia, de todo modo, elementos mais que suficientes para justificar a abertura de um processo contra o presidente —quando, aí sim, seriam cotejados os elementos da acusação e os da defesa. Como se sabe, no entanto, o governo obteve na Câmara dos Deputados os votos necessários para barrar o avanço das denúncias.

    Após o progresso vertiginoso na detecção de corruptores, a Lava Jato caminha lentamente no cerco aos políticos tidos como beneficiários dos esquemas desvendados.

    Contam-se centenas de inquéritos em curso, muitos deles amparados em pouco mais que delações; o próprio Michel Temer está entre os alvos. Segovia terá a oportunidade, pois, de demonstrar que investigações mais aprofundadas serão igualmente mais conclusivas.

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