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    PAULO CESAR DE SOUZA E SILVA

    Uma visão empresarial sobre os Brics

    04/12/2017 02h00

    Wu Hong/AFP
    O presidente Michel Temer (à esq.) ao lado de líderes do Brics nesta segunda (4)
    O presidente Michel Temer (à esq.) ao lado de líderes dos Brics, na última cúpula do bloco

    Os Brics, grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, dificilmente são considerados para além do viés político nas relações internacionais, mas os muitos desafios em comum nos levam a identificar oportunidades comerciais, permitindo analisá-lo com visão estratégica econômica.

    Nos últimos anos, as empresas sediadas nesses cinco países aumentaram participação na economia mundial, e os investimentos intra-Brics, embora ainda reduzidos, continuam em crescimento, fortalecendo a cooperação econômica e novos negócios de um grupo que responde por 22% do PIB global.

    Neste ano, a Embraer assumiu a presidência da seção brasileira do Conselho Empresarial dos Brics (Cebrics), secretariada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

    Estabelecido em 2013, ele reúne cinco empresas de cada um dos países, que têm a missão de recomendar aos seus respectivos governos medidas para ampliar o comércio e os investimentos. No Brasil, além da Embraer, são membros o Banco do Brasil, a BRF, a Vale e a WEG.

    Em análise aos desafios do desenvolvimento econômico, este ano foi identificado que todos os países do bloco adotaram políticas de estímulo à aviação regional, buscando ampliar o número de cidades servidas por voos regulares, desenvolver a infraestrutura necessária, garantir padrões de segurança, bem como proteger o meio ambiente e o desenvolvimento de novas tecnologias.

    A partir dessa realidade, a seção brasileira do Cebrics propôs, na última cúpula do grupo, em setembro, na China, a criação de um grupo de trabalho dedicado ao tema.

    A proposta contou com o apoio em massa de todas as partes para iniciar um plano de ação para áreas potenciais de cooperação em aviação regional.

    O resultado será apresentado aos governos em 2018, com potenciais ganhos para a indústria e possibilidade de impactar positivamente o desenvolvimento de competências e desregulamentação, que transbordariam para outros setores, como agronegócio, energia, infraestrutura, manufaturados e serviços financeiros.

    O potencial de investimentos e intercâmbio comercial intra-Brics merece ser explorado ainda com viés de diversificação e agregação de valor à pauta de exportação brasileira.

    A entrada em vigor do acordo Mercosul-Sacu (Southern Africa Customs Union, que reúne África do Sul, Botsuana, Lesoto, Namíbia e Suazilândia), a negociação para ampliação do acordo Mercosul-Índia e a expansão do acesso a mercados do Brics pela remoção de barreiras não tarifárias constituem passos nessa direção, juntamente com o desenvolvimento de parcerias estratégicas, que beneficiem o setor privado brasileiro.

    O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) tem grande relevância nesse contexto. A estratégia geral do banco para o quinquênio 2017-2021, além de prever a abertura do escritório regional no Brasil, indicou as prioridades em cinco áreas: energia limpa; infraestrutura de transportes; irrigação, gestão de recursos hídricos e saneamento; desenvolvimento urbano sustentável; e cooperação e integração econômicas.

    O Brasil, por exemplo, tem necessidades em todas essas áreas, e as empresas nacionais, por sua vez, estão aptas a participarem de projetos financiados pelo NBD, seja aqui ou em outros países.

    Os mercados dos Brics têm demandas variadas e permitem que encontremos oportunidades, que se tornarão negócios com maior facilidade se houver ambiente favorável e competitivo às empresas brasileiras, com segurança jurídica e previsibilidade. O Brasil e seu setor privado só têm a ganhar ao construir sua estratégia conjunta nos Brics.

    PAULO CESAR DE SOUZA E SILVA é diretor-presidente da Embraer e presidente da seção brasileira do Cebrics (Conselho Empresarial dos Brics)

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