• Opinião

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    CARLOS VEREZA

    O homem e suas circunstâncias

    08/12/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 05-12-2017, 12h00: O presidente Michel Temer acompanha o presidente da Bolívia Evo Morales na saída do palácio do planalto após cerimônia de assinatura de atos, parte da visita oficial de Evo ao Brasil. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    O presidente Michel Temer, em cerimônia no Palácio do Planalto

    Tentar entender Michel Temer pela estreita lupa da ideologia conduzirá analistas das anacrônicas divisões, esquerda versus direita, à necessidade de reconstruir o Muro de Berlim e as tensões da Guerra Fria.

    Temer —em quem não votei— é o improvável, o inesperado no esquema da transmissão viciada do poder. Mas, como assim?, indagam indignados e perplexos aqueles que já o consideravam como o previsível parceiro na marotagem lulopetista que quebrou o país em 13 anos e meses de assalto aos indefesos cofres públicos.

    Recapitulando a farsa petista:

    Lula, ao aproveitar a responsável herança deixada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, mais o impacto do aumento da soja e outras commodities e o crescimento da China a uma taxa anual de 10%, torna o Brasil o principal exportador de minério de ferro e segundo maior de soja.

    Além da demanda da China, a conjuntura global também era favorável ao país nos anos iniciais do governo Lula, com a oportuna expansão significativa dos EUA.

    Mas essa condução, digamos, responsável do governo Lula durou somente no primeiro mandato. Aproveitando o alto grau de aprovação popular, ele se reelege e, então, começam a aparecer os sinais de um projeto de permanência indefinida no poder. Medidas populistas são tomadas sem ter o respaldo de uma política econômica sustentável, como a que foi implementada no primeiro mandato.

    A Lei de Responsabilidade Fiscal é seguidamente desrespeitada, o povo é incentivado a pegar créditos numa propaganda enganosa, acreditando num milagre econômico que levaria a população a um endividamento que explodiria no governo de Dilma Rousseff.

    O legado de Dilma coloca o país na maior recessão de toda a história do país, e sua irresponsabilidade na administração da economia resulta no impeachment e em trágicos números na área social: 13 milhões de desempregados, 61 milhões de inadimplentes, milhares de postos de trabalho fechados, e a constitucional posse do vice Michel Temer como presidente da República.

    O homem e suas circunstâncias, como nos lembra Ortega y Gasset (1883-1955), talvez me aproxime, mais que ideologias, de Michel Temer. Ele, "o inimigo do povo", que tanto tem realizado em benefício dessa mesma população —que repete à exaustão o "fora Temer"—, enquanto o rejeitado por falsas pesquisas põe em prática medidas que vão retirando a nação da mais grave crise de sua história.

    Bastaria a PEC dos gastos para diferenciá-lo de seus recentes antecessores; a Lei de Responsabilidade Fiscal, que não permite gastos acima da receita, a reforma trabalhista e o respectivo fim do imposto sindical, a reforma no ensino médio, sua obstinação em reformar a Previdência, juros e inflação em queda são dados substantivos que me levam a lhe dar meu modesto e insignificante apoio.

    Mas retomo Ortega y Gasset. Aos 77 anos, as escolhas para moldar uma digna e definitiva biografia são raras. Creio que, desse fato, Temer tem absoluta consciência.

    CARLOS VEREZA, 77, é ator, diretor e autor de peças de teatro, com mais de 50 trabalhos desde o início da carreira, em 1959

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