• Opinião

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    RAIMUNDO DEUSDARÁ FILHO E MARIO MANTOVANI

    Todos ganham com o respeito à legislação florestal

    08/12/2017 08h00

    Diego Padgurschi/Folhapress
    ITATIAIA, RJ, BRASIL 22-05-2017: ESPECIAL MATA ATLANTICA - Area do Parque Nacional de Itatiaia que completa 80 anos e foi o primeiro parque nacional do Brasil. (Diego Padgurschi /Folhapress - COTIDIANO) *** EXCLUSIVO***
    Área do Parque Nacional de Itatiaia, no Rio, a primeira área de conservação criada pelo governo brasileiro, em 1937

    O Cadastro Ambiental Rural (CAR), instituído pelo Código Florestal, está em vigor há quase quatro anos, e as primeiras análises das propriedades localizadas em Estados da Mata Atlântica têm gerado informações com grande potencial para qualificar o estado das florestas e demais formas de vegetação deste bioma.

    Um dos frutos da inédita parceria entre Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e Fundação SOS Mata Atlântica, o cruzamento de dados do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) com particularidades da Mata Atlântica tem revelado um leque de novos desafios e de potencialidades para a aplicação da lei florestal.

    O tema ganha peso em regiões com malha fundiária extremamente fragmentada pelo grau de ocupação humana, justamente a realidade dos 17 Estados brasileiros com Mata Atlântica. Análises mostram que mais de 90% dos imóveis cadastrados na região têm até 4 Módulos Fiscais. É o domínio das pequenas propriedades.

    A partir de estudos conduzidos em municípios fluminenses como Nova Friburgo, Cachoeiras de Macacu, Petrópolis e Rio de Janeiro e, depois, ampliados para todo o Estado do Rio de Janeiro, se verificou um satisfatório nível de conservação de Reservas Legais e de Áreas de Preservação Permanente em imóveis com CAR.

    Ainda mais importante, foi estimado que a recomposição de áreas protegidas e daquelas aptas à produção florestal sustentável na Mata Atlântica contribuirá com ao menos 25% das metas brasileiras para a recomposição da vegetação nativa definidas pelo Acordo Climático de Paris, ou 3 milhões de hectares de florestas.

    Também foi verificada uma razoável sobreposição entre Unidades de Conservação (UCs), Terras indígenas e imóveis rurais em determinados Estados do bioma.

    A resolução desses impasses passa pela comprovação da titularidade dos imóveis e pela regularização fundiária das áreas protegidas. Todas elas medidas fundamentais para a conservação da biodiversidade, de fontes de água e de outros serviços ecossistêmicos úteis a toda a população.

    Realidades como essas também revelam que avaliar informações do Cadastro Ambiental Rural olhando apenas para a quantidade de vegetação nativa nos imóveis rurais não é das rotas mais consistentes. Afinal, inúmeras regiões ainda seguem desprovidas do verde das matas e florestas e dos benefícios que elas geram para toda a sociedade.

    Além disso, manter biodiversidade, investir em florestas produtivas e no manejo florestal e enfrentar a crise climática serão fortalecidos com uma recomposição florestal que conecte áreas protegidas, em escala nacional.

    Do Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação da Universidade de São Paulo, outro parceiro da empreitada, veio a boa notícia de que aplicar a legislação florestal e recompor a vegetação nativa em larga escala têm potencial para reduzir fortemente as populações de ratos silvestres que transmitem o hantavírus.

    Afinal, esses animais preferem ambientes abertos ou com poucas árvores. A doença não tem vacina e mata mais de quatro em cada dez brasileiros que são infectados.

    O trabalho avança aprofundando análises para todo o bioma, sempre buscando contribuir para a resolução de conflitos fundiários, para fomentar a recomposição da vegetação nativa em áreas prioritárias e com conectividade.

    As metas também incluem jogar luz sobre os diferentes tipos de vegetação remanescente, avaliar a aplicação da Lei da Mata Atlântica e estimular novos e qualificados Cadastros Ambientais Rurais.

    Sem dúvida, esse conjunto de ações ajudará o Brasil no correto atendimento de compromissos internos e internacionais, como as convenções do Clima e da Biodiversidade, o Desafio de Bonn e a Iniciativa 20x20, esses últimos mais focados em recomposição da vegetação nativa em áreas desmatadas ou degradadas.

    RAIMUNDO DEUSDARÁ FILHO é diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, ligado ao Ministério do Meio Ambiente
    MARIO MANTOVANI é diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, ONG brasileira com 30 anos de atuação

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