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    editorial

    Selfies com o traficante

    09/12/2017 02h00

    Reprodução
    RIO DE JANEIRO,RJ - Policiais civis do Rio de Janeiro tiraram selfies em que aparecem sorrindo ao lado do traficante Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, e postaram as imagens em redes sociais. 157 era o chefe do tráfico da Rocinha, e foi preso na cama, numa casa de uma comunidade em Benfica, a 300 metros da onde está detido o ex-governador Sérgio Cabral. As fotos foram tiradas na Cidade da Polícia. (Foto: REPRODUCAOL, NAS RUAS) *** EXCLUSIVO AGORA SAO PAULO ***
    Policiais civis do Rio de Janeiro tiram foto ao lado do traficante Rogério 157

    A prisão do traficante Rogério Avelino da Silva, no Rio de Janeiro, foi festejada pelos policiais que a realizaram com selfies e outras imagens nas quais Rogério 157, como é conhecido, aparece ora como uma espécie de troféu de caça, ora como celebridade.

    Não há dúvida de que capturar o bandido mais procurado do Estado configura façanha digna de nota.

    Ele foi recentemente pivô de um sangrento conflito entre facções criminosas na favela da Rocinha, que precipitou, mais uma vez, o envio das Forças Armadas à capital fluminense para conter o quadro de violência descontrolada.

    Todavia o espetáculo midiático promovido pelos agentes —procedimento que se torna frequente em ações policiais— foi além, sem dúvida, do que seria recomendável.

    Haveria motivos mais sólidos para comemoração se a prisão do traficante tivesse representado mudança substancial no cenário de insegurança instalado no Rio. Infelizmente, não é esse o caso.

    O próprio secretário estadual da Segurança, Roberto Sá, em manifestação realista, declarou que a história "mostra que essas pessoas acabam sendo sucedidas".

    Rogério 157, como seus antecessores, é peça de uma engrenagem que há décadas desafia as políticas de combate ao crime no país.

    Há que repensar, pois, a maneira como as autoridades públicas têm tentado enfrentar o tráfico de drogas e as guerras de facções –um caríssimo trabalho de Sísifo.

    No plano internacional, avançam alternativas como a paulatina legalização de algumas substâncias proibidas, caso da maconha.

    Não se trata, claro, de panaceia. O Brasil ainda tem longo caminho a percorrer em termos de aperfeiçoamento das polícias e de suas políticas sociais; propostas de descriminalização, ademais, devem passar por consulta popular.

    É forçoso, porém, reconhecer que a guerra às drogas se mostra ineficaz. A própria influência ampla do narcotráfico nos presídios ilustra de modo eloquente os limites das ações repressivas.

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