• Opinião

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    Editorial

    Ciência claudicante

    18/12/2017 02h00

    Gabriel Cabral - 11.set.2017/Folhapress
    São Paulo, SP, Brasil, 11-09-2017: Exames em drogas. laboratório de detecção de drogas da Superintendência da Polícia Técnico-científica de São Paulo. Por falta de base de dados e estrutura o Estado liberou peritos a negar existência de novas drogas, o que afeta o trabalho de combate ao comércio de entorpecentes ilegais. (foto Gabriel Cabral/Folhapress)

    Um dos efeitos mais deletérios da crise orçamentária em que se debate o país é a desorganização imposta a instituições essenciais, como as responsáveis por segurança pública, saúde e educação.
    Nesse rol deve figurar também a pesquisa científica, que no entanto nem sempre é assim percebida pelos governantes e pelo público.

    A desvantagem do setor reside em que sua contribuição para a sociedade e a economia não se mostra tão óbvia nem imediata quanto as do trio mencionado.

    Parece evidente, entretanto, que o Brasil não ostentaria uma indústria aeronáutica e uma agricultura tão competitivas, hoje, se não tivesse investido décadas a fio em pesquisa básica e institutos tecnológicos nessas áreas.

    "É mais difícil para a ciência e a tecnologia do que para um hospital demonstrar os benefícios que elas trazem", bem resumiu em entrevista à Folha o diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Carlos Henrique de Brito Cruz.

    O físico e engenheiro eletrônico, que já foi reitor da Unicamp, não se filia ao contingente de cientistas que se limitam a deblaterar contra os cortes orçamentários no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

    Como este jornal, advoga que o momento de escassez pede também flexibilidade, eficiência e iniciativa da comunidade científica.

    Ser mais flexível implica diversificar fontes de financiamento, em particular no setor privado. A dependência de recursos governamentais sempre representou um calcanhar de aquiles da ciência nacional, para nada dizer do fosso que dificulta o translado do conhecimento gerado na academia para a esfera da produção.

    Para Brito Cruz, universidades e institutos necessitam perseguir e demonstrar a própria eficiência. Não bastam mais as análises quantitativas, como reiterar que o país deu um salto de produtividade entre 2003 e 2015, passando de 1,39% para 2,57% da produção mundial de artigos científicos.

    Importam também avanços em qualidade, como a abertura de empresas em setores dinâmicos.

    Por fim, não podem os pesquisadores se acomodar numa atitude de lamúria catastrofista.

    Cabe a eles tomar a iniciativa de mostrar à sociedade que não faz sentido, por exemplo, garantir o pagamento de salários a docentes de universidades federais (oriundos de recursos do MEC preservados por regra constitucional) e estrangular a verba que possibilita o funcionamento contínuo de laboratórios e projetos de pesquisa.

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