• Opinião

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    editorial

    Inanição chavista

    27/12/2017 02h00

    Meredith Kohut/The New York Times
    Crianças almoçam em um 'sopão' comunitário em uma favela de La Guaira, na Venezuela
    Crianças almoçam em um 'sopão' comunitário em uma favela de La Guaira, na Venezuela

    Kleiver, um bebê de três meses, foi internado com desnutrição, mas tampouco há comida nos hospitais superlotados de crianças na mesma condição. Após 20 dias de agonia, ele sofreu uma morte "incrivelmente dolorosa" que poderia ter sido evitada com fórmula infantil, segundo os médicos.

    Driblando a censura estatal, dois repórteres do jornal "The New York Times" acompanharam, ao longo de cinco meses, crianças desnutridas em 21 centros públicos de saúde na Venezuela. Os chocantes relatos colhidos revelam as vítimas mais frágeis do disfuncional regime ditatorial de Nicolás Maduro.

    Por anos, o preço alto do petróleo maquiou os delírios do chavismo, que deformou as instituições e estatizou vários setores da economia para concentrar poder e se perpetuar nele. Passada a bonança, a conta recai sobre a população mais pobre, acossada pela hiperinflação e pelo desabastecimento.

    A ditadura vem sistematicamente sonegando estatísticas sobre a saúde pública, num esforço vão de encobrimento: como relata a reportagem do diário norte-americano, os sinais de fome são visíveis tanto nos hospitais como no crescente número de crianças disputando sobras de alimento.

    A fome venezuelana tem produzido reflexos fora de suas fronteiras. No Brasil, as principais cidades do Norte receberam centenas de indígenas da etnia warao em busca de comida, tanto para eles como para os parentes que ficaram para trás.

    Cego pela ideologia ou embriagado pelo poder, Maduro continua a insistir num modelo econômico falido enquanto atropela todas as regras democráticas para preservar o comando político.

    Como paliativo no curto prazo, resta à comunidade internacional pressionar o caudilho a aceitar ajuda externa para amenizar a fome.

    O governo brasileiro tem pouco a contribuir: as relações com o país vizinho continuam a se deteriorar —no episódio mais recente, o embaixador em Caracas foi declarado persona non grata pelo arremedo de Assembleia Constituinte instalado pelo regime.

    Em tese, a tarefa caberia a Cuba, China e Rússia, os aliados mais próximos da Venezuela. Mas, dado o retrospecto de tais países quanto a direitos humanos, não se devem alimentar maiores expectativas.

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