• Opinião

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    editorial

    Fim de feira

    30/12/2017 02h00

    Mateus Bonomi/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 21-12-2017, 16h: Carlos Marun, Ministro da Secretária de Governo, promove entrevista especial para à Folha nesta quinta-feira, 21 de Dezembro, em seu gabinete no Palácio do Planalto.(Foto: Mateus Bonomi/Folhapress, PODER) ***ESPECIAL*** ***EXCLUSIVO***
    Carlos Marun, ministro da Secretaria de Governo

    Seria o caso de lembrar o proverbial elefante desembestado numa loja de louças, não fosse mais próximo a um fim de feira o aspecto que tomam as negociações em torno da reforma da Previdência.

    De qualquer modo, beiram o desastre as afirmativas do coordenador político do governo, ministro Carlos Marun, admitindo as pressões que exerce sobre governadores pela aprovação —ainda que mitigada— da emenda constitucional que trata do assunto.

    Notado pelo truculento desassombro com que defendeu o presidente Michel Temer (PMDB) no caso Joesley Batista, Marun admitiu que a liberação de empréstimos federais aos Estados estava sendo condicionada ao apoio das respectivas bancadas parlamentares à proposta do governo.

    Não se trataria de "chantagem", argumentou, mas de ação legítima do Executivo em tema que, como se sabe, é vital para a sobrevivência financeira do Estado brasileiro.

    A reação, que tampouco evitou o espírito de ameaça, veio rapidamente. Governadores do Nordeste protestaram em carta contra a atitude de Marun, dizendo-se dispostos a processá-lo.

    Tratando-se de financiamentos regidos por contrato, não poderia o Executivo submeter sua liberação a critérios políticos, argumentaram os líderes estaduais, em sua maioria da oposição.

    A carta não terá, certamente, grande efeito dissuasório sobre um ministro dotado de especial apetite para o confronto e a provocação.

    O texto lembra que o princípio federativo é inalterável na ordem constitucional, e que "atos arbitrários para extrair alinhamentos políticos" só são possíveis na "vigência de ditaduras cruéis".

    Com menos exagero, o governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, classificou como "equívoco" a explicitude de Marun, acrescentando que o correto seria investir "no convencimento, da população e dos deputados".

    A observação é correta, mas soa em falso. No sistema político e partidário brasileiro, em que o loteamento de cargos e a concessão de verbas constituem peças fundamentais de qualquer governo, a manipulação dos empréstimos não teria por que ser espantosa.

    Ao elefante na loja de louças soma-se então outra imagem clássica, a da vestal em casa de tolerância, para se compor o quadro desalentador de um Executivo imbuído de lógica econômica, mas já sem zelo pela própria respeitabilidade.

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