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    Coleção desconstrói a prosa labiríntica de Mario Benedetti

    DE SÃO PAULO

    24/05/2012 10h27

    "Sabe o que lhe acontece? É que você não vai a lugar nenhum", sentenciou um andarilho cambaleante ao encontrar Martin Santomé, protagonista de "A Trégua".

    O livro, escrito em 1960 pelo uruguaio Mario Benedetti (1920-2009), é o oitavo volume da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana, nas bancas neste domingo.

    Ao registrar metodicamente sua rotina em um diário, Santomé marca as operações sentimentais de um funcionário de contabilidade, viúvo na meia-idade e às vésperas de se aposentar.

    Sua rotina, no entanto, muda ao conhecer Laura Avellaneda, uma jovem discreta e tímida, contratada para ser sua assistente.

    Com ela, o homem reencontra o amor, a desejada "trégua" para uma vida até então triste e opaca.

    Distante de qualquer ilusão otimista, o romance se constrói a partir de um questionamento da felicidade e de um retrato ora bem-humorado, ora ferino, da complexidade dos relacionamentos.

    E com suas rotinas labirínticas e unidimensionais, os burocratas oferecem material preciso quando a literatura tenta enxergar o que cada um de nós mantém guardado no fundo das gavetas.

    A narração unidirecional em primeira pessoa conduz o leitor a uma experiência definida por misérias morais e anseios de liberdade abortados pelo destino. No centro dela, o desejo de escapar do próprio destino para se redescobrir aos poucos.

    Mas quando os caminhos apontam para a redenção, a realidade se apresenta indisposta a conceder a tal trégua.

    E nem mesmo o pessimismo intoxicante da prosa do escritor evita suas iluminações poéticas. Tanto pior, pois cada instante de elevação faz doer mais as quedas.

    Fazendo do Uruguai e, especificamente, de Montevidéu os maiores protagonistas de sua vasta obra, Mario

    Benedetti teve de viver em exílio parte dos anos da ditadura civil-militar instaurada em seu país (1973-85).

    Morava na Espanha quando finalmente pôde retornar, em 1983, ao perceber o ocaso do regime. Ao contrário de Santomé, teria novamente um lugar para onde ir.

    COLEÇÃO

    A Coleção Folha Literatura Ibero-Americana oferece uma seleção imprescindível de 25 renomados autores ibero-americanos. Argentina, Espanha, Peru, Colômbia, Brasil, Portugal, Cuba e México são os países que contribuem para a pluraridade da coleção.

    Editoria de Arte/Folhapress

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