• Poder

    Sunday, 05-May-2024 16:54:01 -03

    Ênfase na defesa dos pobres e emprego de símbolos explicam popularidade de novo papa

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    21/07/2013 02h00

    Francisco pode não ser ainda um pop star como João Paulo 2º, mas é tão habilidoso no emprego de símbolos como seu antecessor polonês.

    Seu cuidado em expressar um "programa de governo" --"uma Igreja pobre e para os pobres"-- começou nos primeiros minutos de seu papado com a escolha do nome e sua ênfase na humildade.

    Veja o especial O papa no Brasil
    Confira a agenda do papa Francisco no Brasil
    Católicos vão pouco à missa e contribuem menos com igreja

    Nunca um pontífice tinha pedido a bênção ao povo reunido para aclamá-lo, nem feito tanta questão de se referir a si mesmo como bispo de Roma, e não como papa.

    Até certo ponto essa ênfase foi uma surpresa porque Jorge Mario Bergoglio, quando arcebispo de Buenos Aires, se mostrara arredio diante da Teologia da Libertação, a corrente católica mais preocupada com a injustiça social.

    Ex-subordinados de Bergoglio chegaram a acusá-lo de colaborar com a ditadura militar argentina nos anos 70, o que nunca ficou provado.

    A preocupação de Francisco em transformar a imagem papal em algo menos principesco continuou com o anúncio de que não moraria no palácio papal, mas num quarto da Casa de Santa Marta, a "hospedaria" do Vaticano.

    Para Moisés Sbardelotto, da Unisinos, a decisão é um exemplo da intenção do papa de parecer o mais próximo possível dos fiéis comuns.

    Em seu primeiro compromisso oficial fora do Vaticano, o papa foi até a ilha de Lampedusa, palco de vários naufrágios de imigrantes ilegais tentando chegar à Europa. "Ele fez uma defesa muito radical de acolhimento a essas pessoas, e todos os paramentos litúrgicos, do altar ao báculo, foram feitos com madeira de destroços desses naufrágios", diz Sbardelotto.

    O papa também mostrou certa despreocupação com o estilo tradicional do Vaticano ao anunciar a canonização conjunta de dois antecessores, João 23 e João Paulo 2º.

    O primeiro é o herói da esquerda da igreja por ter convocado o Concílio Vaticano 2º, que abriu a hierarquia católica ao diálogo com o mundo moderno, e o segundo é visto como o pontífice que deteve essa abertura. "Com as canonizações, Francisco parece estar dizendo: todos vocês têm lugar aqui dentro", afirmou o vaticanista John Allen Jr.

    O papa tem sido mais discreto sobre alterações na estrutura do Vaticano. Sua maior inovação foi nomear um grupo de cardeais para aconselhá-lo sobre a reforma da Cúria --o aparelho burocrático central que governa a igreja, sobre o qual pairam acusações de corrupção.

    Francisco anunciou sua intenção de acabar com as irregularidades no Banco do Vaticano, mas o assunto rendeu o primeiro escândalo de seu papado. Para cuidar da faxina no banco, o papa nomeou Battista Ricca, o qual, segundo a revista "L'Espresso", teria sido frequentador de boates gays. O Vaticano nega.

    O escândalo não parece ter arranhado a popularidade de Francisco. Mau sinal, para o vaticanista Sandro Magister: ele diz que o papa só continua com imagem positiva porque se esquiva de temas polêmicos e não tem "coragem" de atacar o aborto, a eutanásia e o casamento gay.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024