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    Garotinho cadastra eleitores evangélicos e distribui kits

    BERNARDO MELLO FRANCO
    DO RIO

    05/01/2014 03h24

    "Ficamos combinados assim: eu oro por você e você ora por mim." Este é o lema da rede montada pelo deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) para se fortalecer no eleitorado evangélico no Rio.

    Líder nas pesquisas para a disputa do governo do Estado, ele começou a organizar um cadastro para distribuir brindes aos fiéis que ouvem seus programas de rádio.

    Cada inscrito ganha um kit com livro, camiseta e carteirinha personalizada com a foto do ex-governador. O pacote, enviado de graça pelo correio, inclui uma carta de boas-vindas assinada pelo "Irmão Garotinho".

    "A oração é a chave que move o coração de Deus. Creia nisso!", pede o deputado na mensagem aos fiéis.

    O formulário deixa claro que só pode se inscrever quem tem domicílio no Rio, onde Garotinho disputará eleição daqui a nove meses.

    Estado com o menor percentual de católicos do país (45,8%), o Rio vive uma batalha pela preferência dos evangélicos, que somam cerca de um terço do eleitorado.

    Eles são a principal aposta do deputado para voltar ao poder. Há oito anos ele apoiou a eleição do governador Sérgio Cabral (PMDB), mas os dois romperam pouco depois da posse.

    A Folha fez um cadastro no site de Garotinho e recebeu o kit "Palavra de Paz", na última quinta-feira, dia 2. A carteirinha identifica o fiel com nome, cidade, bairro e igreja que frequenta.

    Seu portador é nomeado "intercessor" das orações do pré-candidato ao governo.

    Garotinho também investe no rádio para reforçar o laço com o eleitor e atacar seus adversários. Passa duas horas por dia no ar em emissoras AM. Seu programa de maior audiência mistura orações e sorteio de presentes como geladeira e máquina de lavar.

    A programação é temperada com ataques a Cabral e seus aliados. Anteontem o principal alvo foi o vice-governador Luiz Fernando Pezão, pré-candidato do PMDB ao Palácio Guanabara.

    "O nome do homem é Pezão, mas estão dizendo que é Mãozão, porque o dinheiro sumiu", disse Garotinho.

    Ele também chamou de "171" (artigo do Código Penal para estelionato) o ex-secretário estadual Sérgio Côrtes (Saúde), que deixou o governo Cabral nesta semana.

    Mas a tarefa de lembrar que o âncora será candidato é deixada aos ouvintes. "Só tenho muito a agradecer ao senhor. Que Deus o ilumine, e que seja o nosso governador em breve", disse anteontem uma mulher identificada como Sandra de Carvalho. "Isso é se Deus quiser", respondeu o deputado.

    No ano passado, o Ministério Público ofereceu cinco denúncias contra Garotinho por propaganda antecipada. Nenhuma delas tratou do kit ou dos programas de rádio.

    Ele lidera a corrida ao governo com 21% das intenções de voto no Datafolha.

    OUTRO LADO

    Procurado, Garotinho negou que o cadastro de fiéis tenha finalidade eleitoral. Ele disse que a rede foi montada há um mês e conta até agora com 3.000 integrantes.

    "Isso não tem nada a ver com campanha, e o livro que eu envio não tem nenhuma conotação política."

    O deputado se disse surpreso com o fato de o cadastro só aceitar evangélicos com domicílio no Rio: "Não é minha orientação. Deve ter havido um problema quando fizeram o formulário". Ele também negou que faça campanha antecipada no rádio: "Não posso controlar os ouvintes".

    "A lei diz que eu não posso pedir voto. Se a ouvinte diz que espera que eu seja governador, o que eu vou responder? Que eu não quero?"

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