• Poder

    Saturday, 18-May-2024 08:18:30 -03

    Rio de Janeiro

    Indicação de dom Orani como cardeal encerra longa espera

    FABIO BRISOLLA
    DO RIO

    12/01/2014 15h20

    O papa Francisco encerrou uma espera de quase cinco anos ao indicar como cardeal neste domingo (12) dom Orani João Tempesta, 63, arcebispo do Rio.

    Sua nomeação era aguardada desde 19 de abril de 2009, data em que assumiu o posto de arcebispo na cidade do Rio, uma arquidiocese, por tradição, sempre comandada por cardeais.

    Dom Orani diz sentir "frio na barriga" com nomeação para cardeal

    Às vésperas de cada novo anúncio na época do papa Bento 16, o nome de dom Orani sempre era citado entre os possíveis cardeais nas especulações de religiosos com acesso ao Vaticano. Em 2010, o brasileiro escolhido foi dom Raymundo Damasceno Assis. Dois anos depois, foi a vez de dom João Braz de Aviz.

    Com a realização da JMJ (Jornada Mundial da Juventude), no Rio, em julho de 2013, dom Orani alcançou uma visibilidade inédita em sua carreira religiosa. Mesmo assim, acabou preterido na nomeação de novembro de 2012, quando Bento 16 escolheu seis novos cardeais. No ano seguinte, em 11 de fevereiro, o papa informou que renunciaria ao cargo.

    SEM CHAMAR ATENÇÃO DE ROMA

    Diante das mudanças, dom Orani, um homem sempre cauteloso ao expressar suas opiniões publicamente, evitou ao máximo se expor durante os meses que antecederam a JMJ.

    Concedeu raras entrevistas exclusivas aos veículos de comunicação interessados em noticiar a Jornada. Suas declarações eram sempre em entrevistas coletivas, voltadas para pontos específicos da programação do evento católico.

    Nos bastidores do comitê organizador da JMJ, assessores próximos a dom Orani falavam sobre o receio de que uma exposição excessiva naquele momento pudesse desagradar ao novo comando da Igreja Católica.

    Na passagem de Francisco pelo Rio, dom Orani esteve sempre ao seu lado: nos passeios de papamóvel pelas ruas da cidade, na visita à comunidade pobre de Varginha ou na missa que reuniu mais de 1 milhão de pessoas em Copacabana.

    JORNADA DEIXOU DÍVIDAS

    Sob o aspecto religioso, o evento organizado por dom Orani foi um sucesso incontestável, marcado por cenas do papa Francisco que emocionaram o público católico brasileiro. Entretanto, do ponto de vista financeiro, a Jornada se transformou em um grande problema, ainda não solucionado, para o arcebispo do Rio.

    O custo da superprodução católica foi alto e resultou em uma dívida de R$ 90 milhões com fornecedores. Para amortizar este valor, a Arquidiocese autorizou a venda de um imóvel no valor de R$ 46 milhões, em outubro de 2013.

    No início de janeiro, a Igreja confirmou a doação do Vaticano de R$ 11,7 milhões, com o aval do papa Francisco, para reduzir a dívida. Com a contribuição de Roma, ainda restam R$ 31,5 milhões a pagar.

    O EXECUTIVO DE COMUNICAÇÃO

    Editoria de Arte/Folhapress

    Além de liderar a organização da JMJ, dom Orani acumula funções estratégicas associadas ao plano de comunicação de massa da Igreja no Brasil. Ele é o presidente da Redevida de Televisão (emissora de TV católica), do conselho de comunicação do Congresso Nacional e do Instituto Brasileiro de Marketing Católico (IBMC). Participa ainda da comissão de comunicação da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil).

    Dentro da Igreja, a influência do arcebispo do Rio se consolidou por sua interferência em rádios, jornais e emissoras de TV. Em sua trajetória religiosa, dom Orani sempre buscou a aproximação entre o evangelho e as mídias de grande alcance. Monge da Ordem Cisterciense, ele conciliou o trabalho de gestor com a função de apresentador de rádio e televisão.

    A estreia como locutor custou US$ 150 mil aos cofres da Igreja, em 1991, valor pago pela rádio Difusora Casabranca, após uma negociação conduzida pelo então padre Orani em São José do Rio Pardo. Para viabilizar a compra, a arquidiocese da região vendeu uma fazenda, que havia sido doada à Igreja.

    Alçado a bispo em 1997, Orani ficou na arquidiocese da cidade vizinha de São José do Rio Preto e virou colaborador da Redevida, emissora de TV fundada dois anos antes nesta mesma cidade. Em 2004, já arcebispo de Belém, assumiu a presidência da Fundação Nazaré, grupo de comunicação com jornais, rádios e emissoras de TV espalhados por toda a região amazônica.

    AS BIOGRAFIAS AUTORIZADAS

    Dom Orani tem seu próprio site, assim como perfis no Twitter e Facebook. No iPhone, baixou os aplicativos WhatsApp, Viber e Voxer para despachar com os padres de sua equipe, já acostumados a receber mensagens de texto a qualquer hora.

    O interesse de dom Orani pela comunicação é constatado também nos relatos de sua própria história, já registrada em três livros escritos pelo jornalista Carlos Moioli, seu biógrafo. São eles: "Orani, Pastor da Unidade", "Orani, Pastor da Comunicação" e "Orani, Pastor da Amazônia". Um novo capítulo na trajetória do agora cardeal Orani João Tempesta está prestes a começar.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024