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    Manifestação na praça da Sé deu início à onda dos grandes comícios

    DE SÃO PAULO

    25/01/2014 03h10

    Há 30 anos, São Paulo escreveu um novo capítulo de sua história na praça da Sé, quando cerca de 200 mil pessoas protagonizaram a maior manifestação política do Brasil até então. Começava, no marco zero e durante o 430º aniversário da maior cidade do país, a onda dos grandes comícios pelas Diretas-Já.

    Apesar da mobilização nacional inédita nas semanas seguintes, o sonho de escolher pelas urnas o sucessor do último presidente militar, João Baptista Figueiredo (1979-85), terminou na sessão do dia 25 de abril (que se estendeu até a madrugada do dia 26), num Congresso cercado por tropas militares.

    Foram 298 deputados favoráveis à emenda Dante de Oliveira (1952-2006), que estabelecia a eleição presidencial direta imediata, contra 181 contrários, ausentes ou que se abstiveram. Faltaram 22 votos para a emenda ir ao Senado.

    Naquela tarde de 25 de janeiro de 1984, porém, a vitória das Diretas-Já parecia mais palpável do que nunca.

    Sob forte chuva, a multidão que tomou a praça se espremia para ouvir –ou ao menos tentar, dado o sistema de som insuficiente– quatro horas de discurso dos principais opositores da época.

    No ato, lado a lado, lideranças que dominariam o cenário político brasileiro nas décadas seguintes: o presidente nacional do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, 38, e o senador Fernando Henrique Cardoso (PMDB), 52.

    O palanque, tão apertado como a praça, sustentava ainda outros pesos-pesados, como o presidente do PMDB, Ulysses Guimarães (1916-1992), o "Senhor Diretas", o governador do Rio, Leonel Brizola (1922-2004), do PDT, e o prefeito da cidade, Mário Covas (1931-2001), do PMDB.

    Os três acima, além de Lula, seriam candidatos a presidente em 1989, na primeira eleição direta após a ditadura militar. Perderam para o alagoano Fernando Collor.

    O grande ausente foi o governador mineiro, Tancredo Neves (1910-1985), do PMDB. Conciliador, preferiu ciceronear Figueiredo no seu Estado. Um ano depois, foi eleito presidente de forma indireta, pondo fim ao regime militar.

    O mais ovacionado do dia foi Lula, segundo relato da Folha no dia seguinte. No discurso, pediu aos petistas que não vaiassem outros políticos, que incluíam até um deputado do governista PDS.

    "Se alguém tiver de ser vaiado, que seja eu. Vamos trabalhar de forma unitária. Só assim vamos poder dizer: o povo, na praça, conquistou as eleições diretas para a Presidência da República."

    O discurso mais célebre do dia veio do governador paulista, Franco Montoro (1916-1999): "Há pouco me perguntaram quantas pessoas estão nesta praça. Trezentos mil? Quatrocentos mil? Aqui estão 130 milhões de brasileiros".

    Na época, jornalistas da Folha estimaram o público em 300 mil pessoas, sem medição científica. Cálculo recente do Instituto Datafolha baseado em fotos aéreas indica que o ato atraiu 224 mil pessoas.

    É bem provável que a maioria delas não tenha ouvido os discursos, o locutor esportivo Osmar Santos, que agiu como mestre de cerimônias, ou as canções de artistas como Chico Buarque, Moraes Moreira e Fafá de Belém.

    "Foi maravilhoso, sem dúvida! Mas a esmagadora maioria dos que compareceram ao comício da Sé não viu nem ouviu nada do que se passou no palanque", disse, em carta publicada na Folha uma semana mais tarde, o leitor Frederico Bussinger, na época diretor de operações do Metrô. "Será que a organização não acreditava que viriam mais de 50 mil pessoas?"

    Editoria de Arte/Folhapress

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